Liga Europa: Que Futuro?

Qual o real interesse de uma competição como a Liga Europa? O que desejam os clubes que nela participam? Conquistá-la? Sim, se chegarem à final, vá lá, às meias-finais. Mas quais as expectativas relativamente à competição no inicio de época e ao longo da mesma?

Não existem dúvidas sobre esse assunto quando falamos da Champions League. Todos os clubes que nela participam, sem excepção, dedicam-lhe toda a sua atenção. Colocam inclusive em causa o desempenho no campeonato doméstico, sobretudo se o mesmo se apresentar demasiado competitivo e se a fase em que se encontram na Champions League não facilitar na escolha de jogadores alternativos.

E na Liga Europa, que atitude prevalece? Analisemos somente estas últimas duas edições da prova, sendo que qualquer extrapolação das conclusões tiradas para anos precedentes é naturalmente viável.

Na competição de 2010/11, onde Porto e Braga foram finalistas, que equipas de topo europeu (e por topo considero equipas com visibilidade e projecção europeia, critérios que a maioria aceitará) participaram na competição? Estão recordados? Aqui vai uma lembrança:

Manchester City, Juventus, Bayer Leverkusen, Atletico Madrid, Sporting, Lille, Villareal, Dinamo Kiev, AZ Alkmaar, CSKA Moscovo, Palermo, Zenit, Anderlecht, Estugarda, PSV, Sampdoria, PSG, Sevilha, Borussia Dortmund, Liverpool, Napoles, Porto.

Ainda se juntariam a este lote de 22 equipas, 8 provenientes da Champions, a saber:

Benfica, Braga, Ajax, Spartak Moscovo, Twente, Liverpool, Rangers, Rubin Kazan.

Mas deste lote de 30 equipas, cuja presença em Fevereiro para disputar os 16avos-de-final seria um dado adquirido, quantas falharam? Aqui estão os nomes dos que abdicaram da competição, ainda na fase de grupos: Juventus, Atletico Madrid, AZ Alkmaar, Palermo, Sampdoria e Borussia Dortmund. Até aos oitavos de final ainda capitulariam: Napoles, Lille, Liverpool e Manchester City, sobretudo estes dois últimos, já então considerados como dois dos maiores favoritos à conquista do troféu.

O que leva então às equipas, seus treinadores e dirigentes, colocarem travão nas ambições e deixando claro aos jogadores que a prova não pode acarretar nem desgaste físico e muito menos mazelas?

Peguemos em dois casos fenomenais para corroborar esta teoria: Lille e Borussia Dortmund. Acompanho de perto os campeonatos internacionais, cada vez com mais gosto e paixão, até porque nos tempos que correm, à conta da internet, acedemos facilmente aos jogos e a toda a informação sobre qualquer prova que nos desperte atenção. Deste modo, sobretudo a partir de Dezembro 2010 e Janeiro 2011 foi possível confirmar a qualidade futebolística quer do Lille quer do Dortmund, cujos planteis bem construídos apresentavam futebol de qualidade como equipa e individualidades que mais cedo ou mais tarde saltarão para a ribalta mundial, desde Sahin que já se encontra em Madrid, passando por Goetze (casos do Dortmund), Moussa Sow e Hazard, no caso francês, com particular atenção neste miúdo belga a quem prognostico grande sucesso se souber escolher bem para onde partir no final desta época, Lille é já demasiado pequeno para o seu talento. Mas se ambas as equipas brilhavam internamente, o que as levou a fracassarem na Liga Europa? Azar? Nem por sombras, focalização nas prioridades isso sim, Lille e Dortmund não conquistavam a respectiva prova interna há bastante tempo (creio que no caso dos franceses foi um registo histórico!) e igualmente importante (fundamental nos tempos que correm) não perder de vista a possibilidade de entrar na próxima edição da Champions League, prova que distribui milhões que nenhum clube pode dispensar!

Estes dois casos não são únicos, quase todas as equipas favoritas, cujos campeonatos apresentam níveis de competitividade que não permitem folgas nem distracções, optaram por relaxar na competição europeia, e os casos de Liverpool e Manchester City são o exemplo disso mesmo.

Não afirmo que as equipas perdem propositadamente, mas é notória a preferência que têm quer pela conquista dos campeonatos internos quer pela conquista de posição nos respectivos campeonatos que lhes permitam aceder à Champions League. Ora, como se diz na aldeia do meu avô, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal! Por isso mesmo equipas cujas prestações nas competições internas atravessam horas de amargura ou cujas lideranças estão há muito garantidas, centram as suas atenções na Liga Europa, aproveitando deslizes alheios para exibirem estatutos. Não é portanto qualquer tipo de surpresa que equipas de campeonatos menos competitivos possam surgir com regularidade nas fases avançadas da prova, casos da Ucrania e Russia, ou então equipas secundárias dos melhores campeonatos, casos recentes de Fulham ou Getafe, por exemplo.

A continuar nestes moldes a prova está condenada ao fracasso e à extinção. Várias medidas são exigíveis mas algumas saltam aos olhos: fim da entrada de equipas da Champions na competição e aumento das receitas. No primeiro caso é óbvio que a prova não pode ser o refugo dos fracassados da Champions, é degradante. No segundo caso, sendo certo que as receitas nunca poderão ser do nível da Champions, e mesmo não concedendo mais valias financeiras na fase de grupos, é de todo conveniente que as mesmas existam a partir das fases eliminatórias e que, no mínimo, o vencedor da Liga Europa tenha direito a 25% do prémio monetário atribuído ao vencedor da Champions. E estas são medidas rudimentares, a UEFA que tanto gosta de task-forces poderia muito bem reunir alguns iluminados e dar uma injecção de vitalidade a uma prova que tem toda a lógica de existir mas não neste formato competitivo.

PS:

Nesta temporada temos para já os abandonos de Tottenham, Dinamo Kiev, PSG e Celtic. Dando de barato as saídas de Kiev e Celtic, que dizer de duas equipas que dão cartas e futebol nos respectivos campeonatos? PSG caminha para conquistar França ao cabo de 20 anos e Tottenham é provavelmente a equipa mais excitante da Premier League. Seriam os seus adversários assim tão bons ou franceses e ingleses pura e simplesmente marimbaram-se para a competição?