Couratos c/ Chouriço

Soube-me a pouco o primeiro derby da temporada. Por um lado, após dois belos resultados em 2008 (uns memoráveis 5-3 e uns tranquilos 2-0), uma inquietante tranquilidade tomava conta de mim durante o dia de Sábado, como se o facto de derrotar o rival fosse algo tão simples e banal como tomar um café após a refeição. Por outro lado, após o jogo, fiquei com um sabor agridoce: afinal de contas, o Sporting perdeu por culpa própria, por falta de ambição e falta de pontaria, e não por culpa de um qualquer Paixão. Convenhamos, afinal se os simpatizantes do Paços Ferreira aguentaram tanta pulhice (que, quer se queira quer não, prejudicou igualmente o Sporting, era interessante ver o clube lampião entrar em jogo com 2 ou 3 pontos) quem era eu para me queixar de uma derrota… honesta? E assim foi, enderecei os meus parabéns aos camaradas benfiquistas, e repito aqui o gesto de fair-play, mal-grado uma certa azia não disfarçável, afinal estes jogos não são indiferentes a ninguém que goste de futebol. Fica a consolação de saber que, apesar de tudo, o Sporting mantem-se em primeiro lugar, e vai ter a oportunidade de se vingar no seu marreta preferido, o mouro cor de tijolo.

Podia ficar por aqui, mas estou bem disposto, já não faço um post de 2 metros e meio há meses, e a partida da Luz tem muito que se lhe diga. A começar nas tretas pré-jogo. O Kike Armani Flores, após a cortesia do Gatuno Paixão lhe conceder (finalmente!) o primeiro triunfo, vestiu a pele de Madre Teresa de Calcutá, armando-se em humilde, em contraponto com o Bento. Mas que disse Bento de tão arrogante? Que nunca tinha perdido na Luz, em 3 anos. Querem um exemplo de arrogância? Ouvir o Carlos Secretário afirmar que foi bi-campeão europeu de clubes! Aliás, nunca ninguém o ouviu dizer tal disparate, porque o homem tem bom senso; pena o bom senso não ser um “skill” de futebolista, caso contrário até poderia ter sido… bi-campeão europeu de clubes! Adiante, os jornais pró vermelhos e os angustiados azuis que andam com dificuldade em engolir os sapos que Bento os tem dado a comer nos últimos dois anos, nem acreditaram! Era o confronto do Bem contra o Mal, do decente contra o arrogante, do adorado contra o invejado. Alias, o que me ri quando ouvi em foruns da radio portistas a vociferar contra Bento. Isto de gente que tem PC como voz de comando é ridiculamente cómico. Mas nesta missão de abater um Homem íntegro, sério, honesto e competente, os azuis estão unidos aos vermelhos. A paródia do Fedorento comprido ao penteado de Bento fez furor, mas já enoja de tão repetida, mas que dizer das suas crónicas em ABOLA? Bem, por outro lado, uma coisa é certa: só se inveja realmente quem tem valor, por isso o Bento deve estar no bom caminho. O que é certo e inquestionável é a grandeza de espírito de Bento, que é o único treinador dos três grandes em anos que consegue dar mérito aos adversários quando perde; assim foi no passado Sábado, repetindo gesto já visto na famosa vitória portista patrocinada pelo Proença. Alguém acredita que o mouro cor de tijolo, após ser vergado novamente no próximo fim de semana em Alvalade… não se queixará do árbitro e da sorte? Lá diz o povo, burro velho não aprende línguas, nem ganha campeonatos. Quer dizer, burro velho não ganha campeonatos seria verdade, mas enquanto o PC não entra no condomínio de Custóias até o Gervásio era candidato ao tetra da treta…

Regressando ao derby de Portugal. Bastaram 47 segundos para que a lampionada masculina se agachasse e “os apanhasse” do chão. Não entrou, por falta de sorte e discernimento de Yannick Djaló, afinal o petiz esqueceu-se que pela frente não tinha o GR do Trofense, ou da Naval, ou até mesmo do Paços de Ferreira! Pela frente tinha o sujeito que mais bonés tem apanhado esta época, quase à média de 2 por jogo, se contarmos a pouca figura que fez pela selecção portuguesa. Bastava ter tocado para a baliza, tão simples quanto isso. Não quero com isto insinuar que a vitória benfiquista se ficou a dever a esse lance mas, e viu-se no jogo entre Benfica e Porto, este conjunto de escuteiros da agremiação do bairro da luz, estando em desvantagem, não têm capacidade nem têm treinador que os faça sair do buraco. É apenas uma opinião, mas veremos o que farão ao Napoles, agora que têm de correr atrás do prejuízo e não têm Paixão a correr por eles…

A primeira parte do jogo não tem muito para contar. Seria de esperar atitude forte e dominadora do Benfica, a exemplo do que tinham feito ao Porto até soferem o penalty, mas não,a atitude lampiã foi de expectativa, como se o facto de terem 4 pontos de atraso nada significassem. A aposta era simples: impedir a troca de bola entre o meio campo leonino e aposta nos remates a 30 metros da baliza de Patrício, por parte de Reyes, Cardoso e do mialgias / contusões / microroturas Martins. Embora não muito bem jogada, o facto de se rematar constantemente às balizas tornou o jogo interessante. Pelo meio sobra tempo ainda para Postiga falhar novo lance de isolamento e para a Amelia demonstrar todo o seu potencial em desperdiçar golos cantados. Pena que o faça na minha selecção, mas pelo menos é coerente, mantém a falta de qualidade e categoria seja qual for a camisola que envergue, pena o Professor Donuts não enxergar pelo menos de um olho para ver esta básica realidade. Já em descontos de descontos da primeira parte o muçulmano de cabeça aloirada resolveu presentear a plateia com um número digno do Batatinha. Nada tenho contra a arte circense mas nunca gostei muito de palhaços. Mas os sujeitos da SportTv devem delirar, sobretudo o realizador. Bem, como são 6 milhões, a fatalidade de os apanhar em locais inoportunos é grande, infelizmente demasiado grande. Gostaria de saber se esse lampião realizador alguma vez repetiu 5 vezes um dos 3000 lances semelhantes sofridos pelo Mário Jardel. Alguns deles, provavelmente para cima de meia centena, em jogos contra o Benfica! Não, aliás, dos famosos 19 penalties do Sporting na epoca 2001/02, nem um foi por agarrão dentro da area, apos canto ou livre! Fiquei com a sensação de que o lance do Yebdaporradaenãolevacartão era uma novidade nos estádios portugueses, ou seria a aflição dos lampiões por se verem incapazes de resolver sem ser de penalti? Ficavam as dúvidas para a segunda parte.

Era evidente que as ausências de Izmailov e Vukcevic, num plantel curto, seriam prejudiciais na movimentação atacante. Junte-se um Liedson sem ritmo e temos um caldo sem sal. Isto porque Postiga não convence e Djaló quando embirra com a baliza não há volta a dar. Se um leigo como eu vê isto, que se passou com Paulo Bento para não mexer na equipa ao intervalo ou aos 55 minutos, ou 60 minutos, ou 65 minutos? A resposta tive-a eu, quando afirmei, dois minutos antes do golo do Reyes, que se o jogo fosse de xadrez ao tempo que os treinadores tinham acordado o empate e ido para suas casas! Um Sporting a dar a iniciativa ao Benfica… um Benfica receoso e continuamente a apostar em cantos ou pontapés a meio quilómetro da baliza! A falta de ambição de Bento (atenção, se Bento apostasse tudo no ataque e perdesse em contra ataque também seria criticado, por mim incluído, afinal empatar em casa de um rival ao título, ainda para mais quando se lidera o campeonato, nunca é um mau resultado!), mantendo os irrequietos Derlei & Liedson no banco, auguravam má fortuna. E assim foi, muito embora a Deusa da fortuna tenha estado com os lampiões em todo o jogo. Então não é que o novo super herói dos comedores de courato é, nem mais nem menos, o morto-vivo do J.A. Reyes, o espanholito que já se arrastava em campo, correndo o risco de, em cada passada mais rápica, cuspir fora um pulmão! Já o Di Maria aquecia rapidamente para o Benfica voltar a ter 11 em campo, já no balneário se preparava uma máscara de oxigénio pro manelito… e sai um chouriço para acompanhar os couratos! Mas que festa que se seguiu meus amigos, regada a vinho tinto seguramente. A história do jogo estava escrita, o Yebdanascanetas lá via um cartãozinho da cor da moleirinha, só para não parecer mal, e lá entravam em campo os outrora salvadores leoninos, numa equipa que se esqueceu da lei das probabilidades, afinal tantas vezes permitiram o remate exterior que, mais cedo ou mais tarde, acabariam por ser penalizados.

Fica, no entanto, a minha satisfação pelo facto da minha equipa ter proporcionado uma alegria aos menos afortunados. É certo que ainda não é Natal mas mais vale jogar pelo seguro, afinal no Natal há muito que os adeptos lampiões assistem às provas europeias na tv, vêem o título por um canudo e suspiram pelos craques que o Messias Costa lhes prometerá para o mercado de Janeiro. Aí sim, o Benfica já leva uns 10 campeonatos consecutivos…