Arsenal: o fim de uma Era

O jogo de ontem, a contar para a 1ª mão das meias finais da Liga dos Campeões, entra para a história dos "Gunners" por duas importantes razões: foi a primeira vez que o clube atingiu esta fase da mais importante prova de clubes a nível mundial e foi também o último jogo que a equipa realizou no velhinho Highbury Park, estádio que datava do inicío do século passado, mais precisamente de 6 de Setembro de 1913, curiosamente inaugurado no ano em que o clube tinha acabado de descer de divisão e, igualmente importante para os londrinos, que vivem a sua cidade como se ela fosse um pequeno País, tinha acabado de abandonar o seu território para se mudar para norte do Rio Tamisa.

Se na altura essa mudança possa ter provocado algum mal estar entre os mais aficionados adeptos é de crer que, após 93 anos, a nova mudança para um recinto de jogo ultra-moderno, vá mexer com os mais sentimentais dos adeptos, habituados a ver a sua equipa jogar num recinto tradicionalmente britânico, quase secular, o qual, reconheçamos, projectava uma confortável sensação de os Gunners continuarem a ser somente um clube de futebol.

Mas a força do tempo é imparável. E a verdade é que o clube, cotado em bolsa, com um enorme mercado de adeptos sequiosos para ver o seu clube jogar, não se podia compadecer com um estádio que não tinha mais por onde crescer. Se é verdade que ver jogos da Liga dos Campeões naquele estádio nos transmitia uma sensação que o futebol continuava puro, ligado às suas raízes, a mudança para o novo estádio, com capacidade para 60 mil espectadores e com todo o conforto e funcionalidade associados a uma grande obra, era tão inevitável como um passo certo para o futuro do clube.

Mas sobretudo, mais do que a mudança de estádio, o que poderá sensibilizar os adeptos é a mudança do nome, de Highbury Park para Emirates Stadium, o nome de uma companhia aerea saudita. Os famosos naming rights, que em Portugal já levantaram as vozes dos mais apegados às tradições. Na minha opinião não creio existir algum problema no facto de uma marca decidir patrocinar um estádio de um clube, a troco de uma compensação monetária. Os adeptos mais fieis não se esquecem do real nome do seu estádio, para eles o seu ponto de encontro será sempre mencionado como o Highbury Park, e a questão financeira, nos dias de hoje, nunca poderá ser tratada levianamente. Após o Allianz Arena do Bayern Munique e este Emirate Stadium do Arsenal, entre outros, a "moda" chegará a Portugal. E só por leviandade é que poderá ser negado tão importante capital nas paupérrimas tesourarias dos clubes portugueses. Mais importante que qualquer totonegócio fraudulento, que é igualmente um insulto a todo o cidadão cumpridor com a lei, é importante saber interpretar as mudanças e aceita-las como um mal necessário. Existe por acaso algum sportinguista que deixará de dizer "Vou a Alvalade", algum benfiquista que deixará de dizer "Amanhã o jogo é na Luz" e algum portista que deixará de dizer "Encontramo-nos nas Antas"?