Os Verdadeiros Leões!

Mais um jogo do Sporting comandado pelo Ricardo Coração de Leão, mais um cocktail de emoções!

Antes de começar quero dar os parabéns aos adeptos que se deslocaram ao Estádio José Alvalade e que souberam ser pacientes e apoiarem a equipa durante todo o jogo, mesmo nos momentos difíceis, assim como elogio os dirigentes leoninos por terem a sensatez de colocar muitíssimo bem instalados os adeptos espanhóis, que foram recebidos com distinção e não foram colocados em nenhuma jaula. Estão, portanto, todos de parabéns, um espetáculo dentro e fora das 4 linhas, um daqueles que lamento não ter estado presente, mas é a vida. Mas não posso deixar de recordar algo que me chegou recentemente ao ouvido, parece que os hooligans ingleses que estiveram em Lisboa há pouco tempo não foram colocados na jaula de segurança, dá que pensar não dá?...

Siga para o jogo, que é o que interessa.

Muitos videntes da bola, quais pitonisas de bazar chinês, trataram de encomendar o funeral ao Sporting, somente pelo facto do Athletic Bilbao ter eliminado o Manchester United e o Schalke 04, esquecendo-se porém dos feitos leoninos na competição. Pior, vendo somente o que de melhor trazia o currículo espanhol, não cuidando porém de saber como conseguiram eliminar o Lokomotiv Moscovo, precisamente o adversário anterior ao colosso inglês. Eu vi esse jogo, e até torci pelo Athletic, mas a verdade é que a 30 minutos do final da eliminatória os russos controlavam o jogo em pleno San Mames, contra uns bascos sem imaginação nem chama! Posteriormente ainda aconteceu uma expulsão na equipa da casa, deixando José Couceiro a sorrir de satisfação. Mas o futebol é fértil em reviravoltas, num pontapé de canto surge o único golo do jogo, empatando a eliminatória (1-2; 1-0), mas com vantagem de golos marcados fora para a equipa de Bielsa, que daí em diante refugiou-se na defesa e sofreu até ao último apito do arbitro, conseguindo desse modo manter-se em prova, quiçá salvando a pele do treinador e catapultando a equipa para esta onde de sucessos, comparada inclusive com o Barcelona! Como é engraçado o futebol, um campeonato espanhol apenas satisfatório e uma prematura saída das competições europeias, era esse o saldo do Bilbao, tudo mudou num segundo, e desta conjugação fortuita os “especialistas” (alguns aqui do blog, salvé!) pensaram que vinha a Alvalade uns monstro devorador de sonhos e ilusões leoninas. Porque razão eliminar o United é mais assustador que eliminar o City? Alias, esta até vai direitinha para os portistas: é o United, que foi banalizado pelo Benfica e Basileia, mais forte que o City que vos trucidou em ritmo de treino?

Adiante. Vamos ao jogo jogado, e que jogo e que bem jogado por parte dos leões de Alvalade!

Começou ainda antes da 20.05h. O primeiro apito foi bem audível e de alerta para todos os sportinguistas: Matias Fernández teve uma recaída muscular (uma pena este chileno ser de cristal), e sem ele em campo Sá Pinto perdia o homem das bolas paradas, mas não só, na ausência forçada de Elias e sem Matias, quem pensaria o jogo a meio campo? Dúvida que Sá Pinto resolveu com muita coragem, ao lançar um miúdo que dará que falar no futuro, André Martins. Para além de uma postura humilde dentro de campo, contrária à moda vigente entre a juventude futeboleira actual, pensa e executa de cabeça levantada, sem receios dos adversários nem do ambiente! Tem aqui o Sporting mais uma pedra preciosa da sua abençoada Academia, foi (mais uma) confirmação de um jovem que tem sido lançado ao longo da temporada e sempre que joga não desilude, cometendo erros naturalmente, próprios da inexperiência, mas exibindo qualidades que não enganam. Muito bem Ricardo Sá Pinto, a vitória no jogo começou aqui, seria fácil escolher um jogador como Renato Neto, mais batalhador e defensivo, mas não era esse o papel destinado a Matias Fernández e sendo assim apostou em quem poderia aproximar-se o mais possível do talento do chileno, e André Martins, tirando os pontapés de canto, fez o papel com distinção. E deixo aqui um desabafo, que bom seria ver Paulo Bento arriscar como arriscou com Rui Patrício, e no lugar de convocar algum médio acomodado, como por exemplo Ruben Micael, que tal arriscar em sangue novo, que tal uma surpresa na convocatória? Se calhar é melhor não, eu quero este miúdo em Alvalade pelo menos mais duas épocas…

Entrou o Sporting muito bem no jogo, sem receio e sentindo o forte calor humano que os sportinguistas que preencheram o estádio lhe tributava. Equipa unida, sempre em apoio, com muita raça, à imagem do seu treinador, ingrediente em falta na primeira metade da temporada mas que agora é condimento essencial! Mesmo privados de jogadores que poderiam ter sido titulares na noite de ontem (Matias, Rinaudo, Elias, Oniewu, Jeffren) ou que seriam de grande utilidade como apostas vindas do banco, os disponíveis fizeram das tripas coração, remediando as suas fraquezas (a adaptação de Carriço a meio campo tem sido muito bem sucedida mas não passa disso mesmo, uma adaptação, ainda assim o jovem leão entrega-se totalmente ao jogo, sem queixas, qual Iordanov dos tempos modernos!) e denotando grande espirito de sacrifício e uma indomável vontade de alcançar o sucesso. Sem querer atribuir mais culpas a Domingos Paciência, estava na cara o valor do plantel, como não foi capaz de recuperar psicologicamente a equipa após a injusta derrota na Luz, é algo que nunca vou compreender, o que é certo é que Ricardo Sá Pinto soube ter um discurso de Rei, e todos nós sabemos a diferença que isso pode fazer, a atitude guerreira faz milagres, a atitude de comodista agarrado à gravata e com ar de prisão de ventre não estimula quem quer que seja, não é Domingos?

Houve um jogador que destoou do colectivo: Ricky Van Wolswinkel. Não pela falta de entrega ao jogo, um leão solto na frente de ataque, mas pelo desperdício, algo que tem sido evidente desde o fim do reinado de Domingos. Provavelmente o holandês deve ser o único que sente falta dele em Alvalade, mas ontem foram mais 3 ocasiões de golo desperdiçadas, a última das quais de bradar aos ceus, mas continuo a depositar nele 100% de confiança e crédito, duas dezenas de golos já marcados fazem-no merecedor desse crédito, bem como a sua atitude e disponibilidade em ajudar a equipa. Mas somando essas 3 ocasiões à do Insua na primeira parte e à do Carrillo no final da partida, dão 5 falhanços contra somente 1 dos bascos, na bola ao poste que teria colocado o resultado num miserável 0-2, de uma injustiça atroz! Mas os Deuses da bola estiveram com os príncipes de Alvalade, e bem que o mereceram, sobretudo pelo futebol praticado mas igualmente pelo critério arbitral, que em 30 segundos ia deitando todo o esforço leonino pelo cano abaixo, aquele lance de controlo de bola com os braços dentro de área é passível de grande penalidade, mas se não o é, como pode o “chega para lá” de Insua ser considerado falta?!? Deste descontrolo arbitral resultou o imerecido golo do adversário, que aproveitou esses 10 minutos de desnorte leonino para marcar um, atirar ao poste e ainda provocar o cartão amarelo ao Izmailov, que lhe custará a participação no segundo desafio entre tugas e bascos. Sê positivo Marat, falhas esse jogo mas estarás na final!

Não posso acabar sem voltar a falar de Sá Pinto. Limitar o seu talento como treinador ao seu reportório no balneário como motivador é injusto. Senão vejamos. Que fez quando o Athletic marcou o golo e começou a tomar conta do jogo? Retirou Daniel Carriço e colocou Carrillo na frente de ataque, passando a equipa para um 4-4-2 que mais se assemelhava a um 4-2-4. E, com o golo de Insua, e com os bascos a sentirem a onda de entusiasmo no adversário e no estádio, que faz Sá Pinto? Retira um esgotado André Martins, colocando mais um ponta de lança, Rubio, na busca do triunfo, abdicando praticamente do meio campo, passando a equipa a jogar em duas estruturas, 5 a defender e 5 a atacar, para espanto do mestre Bielsa, que não só não soube contrariar a estratégia ousada como pode agradecer aos santinhos ainda ter uma palavra a dizer na eliminatória! Brilhante jogada táctica de Ricardo Coração de Leão, há que louvar quem merece e hoje, nos despojos da grande batalha de Alvalade, rendo-me a esse grande Leão, obrigado Sá por existires, tens em todos os sportinguistas fiéis seguidores até ao fim!

Ficam ainda duas notas. Primeiro, conclui o Sporting com perfeição esta temporada europeia no seu recinto, 8 jogos a que corresponderam 8 vitórias, a base de qualquer triunfo é fazer do seu recinto uma fortaleza inultrapassável, parabéns portanto a Domingos e Sá Pinto. Por ultimo, e pela primeira vez desde há muitos, mas mesmo muitos anos, Portugal arrisca alcançar o 4º lugar no ranking da UEFA, distando somente 4,6 pontos da Itália, distância essa que vai ser reduzida a metade no inicio da próxima época! A ver vamos se o decrépito futebol transalpino cai de vez no charco e se é desta que a sentença de morte ao catenaccio é decretada!