Redes Social

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Histórias dos Mundiais: 3. Década de 60

3.1. Mundial Chile 1962

O 7º Campeonato do Mundo realizado no Chile, ficou marcado pelo pobre futebol praticado e o pouco interesse do público, mas também pela conquista do segundo título consecutivo do Brasil.

A preparação do Mundial'62 foi bastante complicada, já que o país sul-americano necessitava de remodelar os seus estádios, transportes e sistemas de telecomunicações. Para atrasar ainda mais os preparativos, o Chile foi devastado por um sismo de grande magnitude, que matou mais de 50 mil pessoas e destruiu as cidades de Valdivia, Talca, Concepción e Talcahuano, enquanto que Antofagasta e Valparaíso renunciaram devido à falta de fundos. O Mundial estava em perigo de se realizar, mas o povo chileno conseguiu unir-se perante a adversidade e a prova arrancou a 30 de Maio, com selecções europeias, sul-americanas e o México, representante da Concacaf.

O Mundial de 1962, bateu todos os recordes de países candidatos a jogar a fase final: ao todo eram 56 as equipas que procuravam uma vaga para o campeonato do mundo, que se disputou no país natal de Pablo Neruda e Salvador Allende. Entre os estreantes contava-se a Colômbia e a Bulgária. Antes de começar a prova, destacavam-se duas ausências: Os Vice campeões do mundo e os terceiros classificados do anterior mundial, respectivamente Suécia e França.

Se 1958 tinha sido o mundial de Pelé, o mundial chileno foi o mundial de Mané Garrincha. Num mundial que se destacou pela violência e pelas inovações tácticas, foi um Brasil, menos espectacular que a equipa que tinha ganho o mundial de 58, mas claramente superior a concorrência, que chegou ao Bi-Campeonato. A competição não começou da melhor forma para a selecção canarinha. Depois do triunfo frente aos mexicanos no jogo inaugural (2-0), o Brasil sofreu um forte revés. A sua estrela Pelé, que quatro anos antes tinha sido determinante para a conquista do ceptro na Suécia, lesionou-se na partida com a Checoslováquia (0-0). Todos vaticinaram que o Brasil acabara, nesse momento, de perder todas as hipóteses de se sagrar o terceiro bicampeão mundial da história, juntando-se ao Uruguai e à Itália. Os grandes rivais do Brasil eram a URSS, que se apresentava mais forte do que em 1958, e a Hungria que ameaçava repetir o grande Mundial'54, onde foi finalista vencida.

No grupo da equipa da casa, o Chile surpreendeu tudo e todos ao garantir o 2º lugar atrás da Alemanha, deixando pelo caminho a Itália (2-0), num dos mais tristes desafios da história do mundial, que ficou conhecido como a Batalha de Santiago. Nesse jogo os italianos, acabaram por jogar a 2ª parte, apenas com 9 jogadores, devido ao jogo duro dos chilenos. Rezam as crónicas, e já agora as más línguas, que o árbitro inglês Aston, foi porventura o “melhor chileno” em campo.

Os Quartos começaram com um aborrecido Jugoslávia - Alemanha, que os de leste venceram por 1-0, deixando a Mannschaft pelo caminho. Já o Brasil, puxou dos galões e bateu os inventores do futebol por 3-1. Num derby do leste, checos e húngaros, deram um grande espectáculo, levando a melhor a equipa checa, comandada pelo grande Masopust. Os anfitriões, por sua vez, continuaram a sua fantástica carreira, eliminando a U.R.S.S, de Lev Yashin (2-1).

Nas Meias, um duelo sul-americano, onde os Campeões do Mundo, bateram os da casa por 4-2; e um duelo do leste europeu, onde os checos venceram a Jugoslávia de Tito, por 3-1.

A Final, disputada no dia 17 de Junho, no Estádio Nacional de Santiago, começou com o golo checo, autoria do inevitável Masopust. Amarildo, reporia a igualdade dois minutos depois aos 17’ e assim se manteve o resultado até ao intervalo. Na 2ª parte, Garrincha pegou no jogo e o Brasil superou os checos com mais dois golos (Zito e Vavá). E assim os canarinhos igualavam o feito italiano e sagravam-se bi-campeões mundiais.

Como nota, deve destacar-se que o goleador mor do torneio foi o jugoslavo Jerkovic com 5 golos, seguido por um quintento de jogadores que obteve 4 remates certeiros: Sanchez (Chile), Albert (Hungria), Ivanov (U.R.S.S.), Garrincha e Vavá (Brasil).

A Figura


Garrincha - Manuel Francisco dos Santos, que ganhou a alcunha, por em pequeno passar muito tempo a tentar caçar pássaros, foi a estrela maior do mundial de 62. Foi considerado por muitos o melhor extremo de todos os tempos, e dele dizia-se, que conseguiria fintar dois adversários dentro de uma cabine telefónica.

Verdade ou não, sabe-se que muito da prodigiosa finta de Garrincha, advinha de uma enfermidade da infância, que o tinha colocado quase numa cadeira de rodas para o resto da vida, e que lhe deixara marcas, como uma perna ligeiramente mais curta e curvada que a outra, mas que uma enorme força de viver e uma vontade que arrastava montanhas deixou para trás. Garrincha viveu rápido e intensamente. Tal como um pássaro, voava pelo campo, imprevisível e livre. Morreria aos 50 anos, pobre, doente e minado por uma vida degradante, resultado da sua dependência pelo álcool e pelo jogo. Mas em 1962, nos campos Chilenos, o Mané, como era conhecido pelos amigos, teve entrada directa para o Panteão dos deuses do futebol.

O Onze: Carbajal (México), Césare Maldini (Itália), Djalma Santos (Brasil), Voronin (U.R.S.S.), Schenellinger (Alemanha), Masopust (Checoslováquia), Zito (Brasil), Zagallo (Brasil), Garrincha (Brasil), Vavá (Brasil) e Sanchez (Chile).

3.2. Mundial Inglaterra 1966

1966, o Futebol chegava finalmente a casa. A Inglaterra vivia uma era de expansão, tanto a nível económico como cultural. Era o tempo da Swinging London, meca da cultura Pop. As ruas enchiam-se de adolescentes de cabelos compridos e de jovens vestindo a revolucionária mini-saia. Foi nesse ano que John Lennon afirmou que “Os Beatles eram mais conhecidos que Jesus Cristo”, e a Inglaterra e o mundo, dançavam ao som da música dos Fab Four.

Foi neste ambiente, que a Inglaterra abriu os braços e recebeu o mundo, para o grande evento, que finalmente se realizava na pátria que tinha dado o futebol ao mundo. Foi também o primeiro campeonato mundial a ter honra de transmissões televisivas a cores.

Entre os ausentes destacavam-se os suecos, os checos e os jugoslavos. Já relativamente aos estreantes, saudava-se a chegada da Coreia do Norte e de Portugal, ao convívio das grandes equipas.

A selecção nacional, estreava-se assim nos grandes palcos, escudada pelas vitórias do Benfica na Taça dos Campeões (61 e 62) e do Sporting na Taça das Taças (64). Os Magriços, como ficaram conhecidos, assentavam do meio campo para frente, na fantástica equipa do Benfica (Coluna, Simões, Torres, José Augusto e Eusébio) e na sólida defesa dos leões, de onde se destacava o moçambicano Hilário. Mas apesar dos excelentes valores, Portugal, não partiu para Inglaterra com grandes ambições, imbuído que estava, no espírito salazarista, de “pequenos mas orgulhosos”.


O Mundial começou com um pobre e aborrecido Inglaterra - Uruguai (0-0). Enquanto no outro jogo do grupo, franceses e mexicanos, empatavam a uma bola. A Inglaterra venceria este grupo 1, sem dificuldades depois de vencer a França e o México pelo mesmo resultado (2-0). Já o Uruguai ao vencer a França (2-1) garantiu a segunda vaga para a fase final.

No Grupo 2, a Alemanha entrou em campo disposta a garantir a qualificação sem dificuldades, e esmagou os helvéticos (5-0). No segundo jogo, um empate (0-0) com a Argentina, abriu o caminho para qualificação, que foi carimbada numa vitória sobre a Espanha (2-1). Os Alvicelestes foram segundos, vencendo espanhóis (2-1) e suíços (2-0).

O Grupo 3, era o grupo do campeão do mundo. E o Brasil entrou na prova vencendo os búlgaros por duas bolas a zero. Portugal e a Hungria, iriam discutir o segundo lugar. E nesse jogo da estreia de Portugal, com Eusébio a ficar em branco, os Magriços venceram por 3-1. Na segunda jornada os lusos bateram os búlgaros por 3-0, enquanto a Hungria, com Albert, causava a grande surpresa e vencia o Brasil por 3-1. Na última ronda, no jogo do tudo ou nada, o Brasil perdeu por 3-1, numa tarde mágica da selecção nacional, onde Eusébio e companheiros, arrasaram os bicampeões mundiais. Enquanto a estrela Pelé, foi eclipsado pelas marcações serradas e violentas de Morais (Sporting) e do belenense Vicente.


Mas não só a eliminação do Brasil foi surpresa na primeira fase do mundial inglês. O último grupo do mundial trouxe a maior das surpresas. Num grupo em que os soviéticos venceram todos os jogos, a disputa pelo 2º lugar ficou entre a Itália e a Coreia do Norte, que já tinha surpreendido tudo e todos ao empatar com o Chile (1-1). No jogo decisivo o empate bastava aos transalpinos, mas a surpresa aconteceu e os coreanos venceram por um golo solitário, que valeu a maior humilhação do futebol italiano. Ainda hoje, em Itália, uma derrota escandalosa é conhecida por uma Coreia.

Chegaram então os Quartos de Final, onde num jogo disputadíssimo e equilibrado, os Ingleses venceram os Argentinos (1-0), que tiveram na violência o seu “jogo” mais forte. Já os alemães, bateram o Uruguai sem dificuldades, por quatro bolas a zero. Num derby de leste, os Soviéticos superiorizaram-se aos húngaros por 2-1.
Mas o jogo mais espectacular do mundial, foi o Portugal-Coreia do Norte. As duas equipas surpresa da competição, que logo no ano da estreia tinham deixado pelo caminho os dois bicampeões do mundo (Brasil e Itália), entraram em campo dispostas a fazer história e a qualificarem-se para as Meias-finais. Os portugueses eram favoritos, mas cedo se apanharam a perder por 0-3, aos 25 minutos. Mas Eusébio pegou na bola e ao intervalo, Portugal já tinha marcado dois golos. Na segunda parte, a Pantera Negra completou o “Poker” e marcou 4 golos no total, numa histórica vitória por 5-3.


Estavam então encontradas as quatro equipas que iam discutir o título de campeão mundial. Desde 1934 que nunca mais tinha acontecido só equipas europeias chegarem as Meias-finais. Aliás, tal feito só voltaria acontecer mais uma vez, no mundial espanhol de 1982. Alemães e soviéticos abriram as hostilidades. A Alemanha de Beckenbauer levou a melhor sobre a U.R.S.S. de Lev Yashin (2-1). Na outra Meia-final, no histórico Estádio de Wembley, a Inglaterra superiorizou-se a um cansado Portugal, com uma vitória justa e indiscutível (2-1).

E assim chegou-se ao grande dia, num estádio de Wembley repleto, com a Rainha Isabel II na tribuna de honra. A final entrou para a história como uma das melhores de todos os tempos. A Alemanha Ocidental tomou a liderança com um golo de Haller (12’). Mas Hurst marcaria o golo do empate aos 18’. A Inglaterra começou a dominar o jogo, mas a ver o tempo passar. Só a doze minutos do fim Peters colocou os ingleses em vantagem. Mas mesmo ao cair do pano Weber marcou o 2-2. Pela primeira vez numa Final de um Campeonato do Mundo, era preciso jogar um prolongamento. Aos 10’ do tempo extra, aconteceu o golo mais famoso da história dos mundiais. Geoff Hurst rematou cruzado, Tilkowski não conseguiu tocar na bola. Ela bate na barra e cai sobre a linha de golo segundo os alemães, ou entra totalmente dentro da baliza, como explicam os ingleses? O árbitro suíço Gottfried Dienst não tem dúvidas e aponta para o meio do relvado. É golo da Inglaterra! Os protestos alemães sobem de tom, enquanto os ingleses correm pelo relvado em festejos. O jogo finalmente é retomado com a indignação germânica. Já na segunda parte, no último minuto da partida, Hurst faz um hattrick e sela a vitória inglesa.

A Inglaterra, a pátria do futebol, era finalmente campeã mundial, e apesar de um golo que ainda ninguém em consciência, pode afirmar se foi ou não golo, foi uma justa vencedora. A Portugal coube a honra de ser a surpresa da competição, saindo com um honroso 3º lugar na estreia, prometendo grandes feitos futuros, que nunca vieram a confirmar-se.


A Figura


Eusébio - O Pantera Negra, como era conhecido Eusébio da Silva Ferreira, não chegou ao mundial Inglês, como um perfeito desconhecido. Muito pelo contrário, tinha sido eleito melhor jogador europeu do ano em 1965 pela revista France Football. Tinha também já conquistado o prémio de melhor goleador do velho continente, e tinha ganho uma Taça dos Campeões Europeus em 1962, além de ter perdido duas finais em 1963 e 1964. Com a camisola das quinas, com o número 13 nas costas, Eusébio ficou imortalizado na história do futebol mundial com os seus nove golos, que lhe valeram o título de melhor marcador da competição. Quem consegue esquecer, as imagens de Eusébio a ir buscar a bola ao fundo da baliza coreana após marcar o primeiro golo?; ou o sentido abraço que deu a Yashin após marcar o penalty no jogo de atribuição de 3º e 4º lugar contra a U.R.S.S?; ou a imagem das suas lágrimas, ao sair derrotado da Meia Final contra os ingleses em Wembley?

O Caso

O Mundial de 1966 tem mais para contar do que os nove golos de Eusébio (e o terceiro lugar de Portugal) ou o único hat-trick numa final do Campeonato do Mundo (assinado por Geoff Hurst, mas com um golo validado que não entra na baliza). A história do Mundial de 1966 começou três meses antes, altura em que o troféu Jules Rimet foi roubado e recuperado alguns dias depois por Pickles, um cão rafeiro.

A federação inglesa e o inglês Stanley Rous, o sexto presidente da FIFA, viveram o pior pesadelo. Com o Mundial à porta, não havia taça, roubada da vitrina em Central Hall, em Westminster, a 20 de Março. A investigação começou e a Scotland Yard foi inundada por teorias mirabolantes.
As autoridades inglesas seguiram então a pista de um telefonema. “Jackson” pediu um resgate de 15 mil libras em notas, mas foi detido durante a troca, que nunca chegou a acontecer. Se os bons da fita levavam apenas 500 libras e uma série de jornais cortados às tiras como nos filmes, “Jackson” (Edward Betchley, de 46 anos) não tinha consigo o precioso objecto – era apenas o intermediário do esquema.

Dois dias mais tarde, entra em acção Pickles. Numa noite de domingo, David Corbett levou à rua o rafeiro que quatro anos antes o irmão não quisera criar porque lhe roía a mobília. Pickles esticou a trela quando passaram ao lado do carro do vizinho. No chão, junto a uma das rodas, um embrulho chamara a sua atenção. Corbett destapou uma mulher dourada com as inscrições Alemanha, Uruguai e Brasil.

Depois de uma noite mal passada a dar explicações na polícia, David Corbett livrou-se do rótulo de suspeito e Pickles transformou-se numa estrela. Entrou em filmes, programas de televisão e a marca Spillers ofereceu-lhe tudo o que pudesse comer durante 365 dias. Morreu em 1967, atrás da casa que o dono comprara com as 3000 libras da recompensa. Antes, no dia 30 de Julho de 1966, tinha estado na festa do título e no colo de Bobby Charlton.


O Onze: Banks (Inglaterra), Cohen (Inglaterra), Voronin (U.R.S.S.), Moore (Inglaterra), Mazzolini (Argentina), B. Charlton (Inglaterra), Beckenbauer (Alemanha), Albert (Hungria), Simões (Portugal), Eusébio (Portugal) e Hurst (Inglaterra).

1 comentário:

Ramos disse...

Estive acompanhar a primeira parte do jogo de abertura do mundial e acho que a África do Sul e o México são mesmo fraquinhos e limitados de recursos.