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quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O GUARDA REDES



O JOGADOR SOLITÁRIO


São, no limite do jogo, os últimos a defender e os primeiros a iniciar o ataque, mas, quando se fazem esquemas tácticos eles desaparecem dos desenhos. É o estranho mundo dos guarda-redes. Fala-se em 4x4x2. Devia falar-se em 1x4x4x2...

Durante algum tempo, notou-se a diferença entre aqueles que fizeram toda a carreira podendo receber com as mãos passes de colegas, e outros, da nova geração, desde o inicio limitados às novas regras. Jongbloed, na Holanda de 74, foi o precursor nesse aspecto.Tacticamente, existem três sectores numa equipa. Defesa, meio-campo e ataque. A noção de bloco que o jogo moderno trouxe, impondo em nome da coesão táctica que os sectores se devam manter unidos em campo, obriga, muitas vezes, a defesa, na tentativa de acompanhar a dinâmica desse bloco, a subir no terreno, aumentando então a distância que a separa do guarda-redes. Um dos perigos que resulta daqui são, por exemplo, os passes em profundidade que colocam a bola nas costas da defesa então subida. Para preencher esse espaço vazio impõe-se o adiantamento do guarda-redes para perto da entrada da área, de forma a antecipar qualquer bola que surja nessa área. Tal exige leitura de jogo atenta, velocidade e bom jogo de pés, para chegar primeiro à bola que o avançado, numa zona onde é proibido jogar com as mãos. É uma espécie de guarda-redes libero.Outro dos grandes atributos dos guardiões do presente é reposição da bola em jogo. Rápida e precisa, lançando o contra-ataque com as mãos.

No passado, os jogos entre a selecção da FIFA eram alvo de grande atenção. Nos anos 60, entre as redes, era usual jogar, numa parte, Soskic, e, na outra, Yashine. O jugos lavo era um assombro: voava frequentemente, para gáudio dos fotógrafos. Depois, vinha o russo e "estragava" tudo. Defendia de pé, sem malabarismos ou voos rasantes, o que o outro defendia com todo o espectáculo.No final, todos ficavam deslumbrados com Yashine, que fazia o mesmo trabalho com metade do esforço.




Ao longo dos anos, a escola de Leste criou o mito do guarda-redes frio, quase glaciar. Um "iceberg" entre os postes. Apesar de a memória abrigar nomes como o checo Grosics e o austríaco Koncilia, só nos anos 80, com Dassaev, o Leste voltou a ter um guarda-redes verdadeiramente digno da herança da aranha.

Morfologicamente, os latinos são de baixa estatura. Olhando um guardião italiano ou português, nunca ficamos com a sensação de que ele "enche" a baliza. O recurso só pode ser a agilidade felina. Em 1998, a França conquistou o mundo com o "volant" (o voador) Barthez. O careca gaulês, apesar de algumas saídas suicidas - típicas deste tipo de guarda-redes -, nunca treme antes de voar para uma bola, esteja ela no limite da área ou perto da linha de golo, habituado que está, como todos os "keepers" da sua estirpe, a respirar fora dos postes. Um contraste, por exemplo, com o jugoslavo-croata Ivkovic que quase precisavam de um garrafa de oxigénio antes de sair a um cruzamento.
Para Alex Ferguson, no presente, «os melhores guardiões do Mundo são italianos». Uma opinião com muitos argumentos. A escola italiana abriga um conjunto de excitantes "porTiere", como Buffon, que revelam excelente posicionamento, agilidade, capacidade de orientar a defesa e loucura "q.b". Atributos que se aplicavam a Zoff, campeão mundial em 1982 com 41 anos.



Historicamente, em termos de estilo, a América do Sul preconiza uma forma diferente de sair da baliza. A partir dos anos 60, todos os guarda-redes europeus saem em queda aos pés do avançado, colocando lateralmente o corpo. Na América do Sul, saem de joelhos com o corpo na vertical. Um contraste consagrado, por exemplo, pelos argentinos Filiol e Pumpido. Hoje, esta diferença menos evidente.

O drama brasileiro



Podemos, em traços largos, distinguir, no futebol europeu, quatro escolas diferentes de guarda-redes: a latina, a de Leste, a britânica e a do Norte da Europa, cada uma com o seu estilo, mas todas distantes do exotismo da escola sul-americana.Nas "peladas" de rua, quem vai para a baliza, normalmente, é sem. pre aquele que exibe menores dotes técnicos. Um destino traçado desde menino. O Brasil é dono do futebol mais admirado em todo o Mundo, mas os seus guarda-redes sempre foram alvo de piadas. Na Europa, diziam que eles cresceram com as galinhas. Depois do "gato Félix" em 70, o "escrete canarinho" viveu de Leão, atéque a partir dos anos 80, com Valdir Peres e Taffarel, o problema se tornou sério.É caricato notar como os jogadores brasileiros ficam admirados quando, na Europa, assistem à forma de os guarda-redes europeus blocarem a bola. Embrulhando-a com os braços, quase como se segura um bebé, com firmeza, em oposição à leveza com que os sul-americanos a agarram com a palma das mãos. Tudo traços que definem diferente'ir formas de estar no futebol.Contava o malogrado Barbosa, o guarda-redes do Brasil batido pelo Uruguai no Mundial'50, que «já revi esse golo milhares de vezes na minha cabeça. Todas as noites, sonho com essa bola na minha direcção, e eu deixo-a escapar.Já passaram quase 50 anos, mas ainda há pouco uma senhora, quando me viu numa loja, disse para um menino que trazia pela mão: «Vês, meu filho, foi esse homem que fez chorar milhões de brasileiros...»

Entendem agora do que se está a falar? Guarda-redes: onde eles pisam, a relva deixa de crescer...

Por: Luis Freitas Lobo

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