Filipe Soares Franco - Presidente Sporting CP (2005-2009)

"Vou fechar um ciclo eleitoral daqui a seis meses e não posso deixar de dizer que tive o maior prazer de ter sido presidente do Sporting durante estes anos e que estou orgulhoso da equipa que comigo trabalhou arduamente para, permitam-me que o diga com toda a imodéstia, salvar o Sporting. Tenho a consciência de que salvei o Sporting e que esta equipa salvou o Sporting."
Filipe Soares Franco, Dezembro 2008



Confesso que em Outubro de 2005, quando Dias da Cunha decide fazer-se de vítima e abandonar o barco só porque a malta leonina não aprovava José Peseiro (só de pensar nessa besta fico mal disposto…), o nome de Filipe Soares Franco não augurava nada de bom. Com uma postura de beto de Cascais e sem nenhum entusiasmo popular, pese embora o seu currículo de gestor competente, a minha aposta (e da esmagadora maioria) recaíria em nomes como os de Miguel Ribeiro Telles, José Eduardo Bettencourt ou Dias Ferreira. Mas Filipe Soares Franco provou, nestes quatro anos de mandato que, mesmo sem se dedicar a 100% ao clube (nem todos abandonam negócios de fogões e pneus para viver à conta do clube…) devido aos seus afazeres profissionais, foi competente, sério, honesto, frontal e cumpridor dos objectivos a que se propôs.

Aliás, dos objectivos propostos aquando da sua eleição, cumpriu cerca de 80% dos mesmos. Falhou a militância, o “regresso” da alma leonina e dos sócios e adeptos à vida do clube, essa crise de militância que tanto e tantas vezes Filipe Soares Franco fez referência, com sentida mágoa. É um problema do Sporting, sobretudo desde os tempos de Sousa Cintra, que urge resolver. Mas foquemos os aspectos positivos para começar.


Objectivos alcançados

1. Consolidar passivo – está fixado nos 245 milhões de euros (238 bancário e 7 de dívidas a fornecedores em atraso).

2. Alargamento do prazo dos financiamentos de 14 para 20 anos.

3. Redução de 25% nos spreads dos juros aplicados (de 2,3% para 1,5%/média).

4. Adequar as responsabilidades financeiras a cada empresa consoante a capacidade de gerar receitas para o seu pagamento – cash flow anual estará entre 7 e 12 milhões de euros, consoante participação na Liga dos Campeões.

5. Tornar o grupo Sporting sustentável e não estar obrigado a vender jogadores.


Sejamos sérios, apresentou obra feita! Por muito que os críticos digam o contrário, no seu mandato o Sporting retomou o caminho do sucesso desportivo e, a nível financeiro, o passivo do clube e da SAD foi reestruturado e encontra-se controlado. O projecto levado a votação na última AG do clube e que necessitava de 75% dos votos para ser aprovado (conseguiu…72%...) foi o último golpe de uma oposição que, sem apresentar ideias e soluções, dedicou-se somente à má-língua, ao ponto de Dias da Cunha manifestar apoio ao Benfica, considerando que o Sporting não tinha sido prejudicado na final vergonhosa da Taça da Liga, apenas para poder ter mais um trunfo anti-Soares Franco. Inacreditável, seria de esperar que os principais inimigos do presidente do Sporting Clube de Portugal se encontrassem a norte ou do outro lado da segunda circular, no entanto como todos os portugueses puderam constatar, uma fogueira de vaidades consome de tal forma alguns indivíduos que se assumem (serão mesmo?) sportinguistas que todos os fins (destituir o presidente, tomar o clube pela força) justificam meios tão medíocres!

Não me recordo, igualmente, de outro presidente leonino tão disponível para esclarecer os sócios e adeptos que assim o desejassem. Não se isolou numa torre de marfim nem passou por autista perante as dúvidas que os projectos de reestruturação financeira do clube levantaram nas mentes dos adeptos, sobretudo daqueles que passaram a temer pelo futuro da maior e mais prestigiante colectividade lusa. Somaram-se entrevistas em radios e jornais, esclarecimentos em colóquios e em sede própria, nas instalações do clube. Seguem-se alguns desses esclarecimentos, frontais como a imagem de Soares Franco.


Porque é que o Sporting renegociou a dívida? E quanto tempo demorou a fazê-lo?
Para adequar as receitas ao serviço da dívida (juros e amortizações de capital) e poder soltar mais fundos para o futebol – com o antigo acordo, só podia gastar 16 milhões de euros e estava obrigado a fazer mais-valias de 5 milhões (ou seja, tinha 11 milhões para custos com pessoal). Assim, ao longo de dois anos, foi negociado um novo contrato que permite dar maior competitividade ao futebol leonino e não obriga a vender jogadores todos os anos.

A passagem da Sporting Comércio e Serviços (SCS) para a SAD teria sempre de passar pela aprovação da AG? Não. Segundo Soares Franco, existia uma forma de passar sem violar os estatutos – vender directamente. No entanto, a operação traria mais encargos financeiros. “Não sou capaz de omitir a verdade aos sócios. A proposta é clara”, ressalva.

Quanto é que o Sporting recebeu da MDC? Não seria possível renegociar o valor total? O Sporting já tem cerca de 25 milhões de euros da MDC em reforços de adiantamentos e terá de receber mais 25 milhões. Ou seja, um total a rondar os 50 milhões de euros. Soares Franco refuta a hipótese de os terrenos do antigo estádio já valerem agora mais, como alguns associados foram manifestando ao longo do tempo, e, sublinha que “o clube honrará sempre os compromissos assumidos”.

Porque é que os leões têm de receber o equivalente a 24 milhões de euros da Câmara? Como forma de pagamento do terreno B2 (localizado na interface do Campo Grande, com 29 mil metros quadrados), ganho em Setembro no Tribunal Arbitral e onde não é permitido construir, a Câmara Municipal de Lisboa terá de ceder ao Sporting o equivalente a 24 milhões de euros como activo convertível em caixa. Ou seja, deverá pagar através da cedência de um terreno no mesmo valor mas num outro local da cidade.


Atentemos à evolução da situação financeira do Sporting Clube de Portugal durante o mandato de Filipe Soares Franco. Em finais de 2006 garante a solvabilidade financeira do clube com a redução do passivo de 270 milhões para 150 milhões até Junho de 2007. No entanto o projecto não corre como então previsto e já este ano, em Janeiro, o líder leonino assegura que a dívida total, na ordem dos 245 milhões, será de apenas 140 milhões até Junho do presente ano.

O que emperrou então o projecto? A crise, os sucessivos atrasos em torno dos terrenos do antigo estádio e o chumbo em AG da proposta de reestruturação financeira.

O que mudou? O problema com a CML está resolvido, a dívida com a banca foi renegociada e o novo acordo com a MDC passou a ser uma realidade.

O que não mudou? A crise, que “obriga a uma prudência cada vez maior”.

O que pode não mudar? A vontade dos associados aprovarem, ou não, a passagem da Comércio e Serviços para a SAD e a emissão de VMOC’s (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis).

“O Sporting ficou financeiramente sustentável sem vender activos” regozijou-se o presidente dos verde e brancos. Após dois anos de duras negociações com o BES e o Milenium BCP, os responsáveis lisboetas conseguem baixar a dívida a um ponto que, fazendo fé nas palavras de Soares Franco no final de 2006, permite que somente cerca de metade dos resultados operacionais sejam utilizados para abater juros contraídos.

O novo acordo com a banca permite alargar os prazos de financiamento de 14 para 20 anos, baixa os spreads médios dos juros, permite alocar as responsabilidades financeiras consoante a capacidade de cada empresa do grupo gerar receitas e, mais importante que tudo, acaba com a obrigatoriedade de encaixar mais-valias com a venda de activos.

Como vai fica o Passivo

Valor Actual: 245 milhões de euros

Contrato renegociado com a MDC – 25 milhões de euros
Contrato com a CML – 24 milhões de euros
Emissão de VMOC’s – 55 milhões de euros

Valor esperado em Junho 2009: 141 milhões de euros

Numa altura de crise financeira generalizada há que ter a coragem de, inclusivé, empenhar alguns anéis, entre eles a Academia de Alcochete que, é preciso realçar, vale pelo intangível! Pelas pessoas e métodos que lá foram introduzidos e hoje são regularmente aplicados o que continuam a permitir (quantos lá formados alinharam ao longo da temporada?) a uma equipa de tostões disputar com os 'milhões' do Porto e do Benfica o título nacional e a entrada na Champions!

Tudo isto é muito simples, coerente e transparente. E foi levado à AG leonina no passado dia 17 de Abril por Soares Franco, necessitando de 75% dos votos para ser aprovado. A emissão de 55 milhoes de euros em VMOC é ponto basilar do plano de reestruturação financeira e redução do passivo, tal poderá implicar que o clube perca a maioria do capital da SAD, sem, no entanto, perder o controlo da gestão da sociedade por força da manutenção da titularidade das acções de categoria A. Os detentores de acções de categoria A têm o direito de veto sobre matérias como a alienação ou oneração de património, emissão de novas acções, cisão, fusão, transformação ou dissolução da sociedade, aumento ou redução do capital social, entre outras.

Mas houve igualmente erros. Reconheça-se a Soares Franco o mérito de ter percebido que, como estava, o Sporting não caminharia para lado nenhum excepto o abismo. No entanto, a via que escolheu, desde a sua eleição até hoje, afastou-o de uma parte dos sportinguistas e provocou dúvidas em muitos outros. Franco falhou porque não soube ser presidente de uma instituição como o Sporting, porque não conseguiu apelar ao sentimento leonino nem mobilizar o mais importante recurso e património do clube, que são os sócios e adeptos, a alma Sportinguista.


Em conclusão, Filipe Soares Franco cumpriu o seu serviço com mérito, dedicação e lealdade. Agora é tempo para novo sportinguista avançar e cumprir o seu destino, pelo futuro do clube, pelo futuro do melhor que o desporto falado em português tem para oferecer ao Mundo. Foi o 35º presidente da história de um clube centenário prova de que, ao contrário das vozes medíocres, não há monarquia, nem dinastia muito menos ditadura presidencial no clube de Alvalade! Viva o Sporting de Portugal!