Aqui fica um breve apanhado dos últimos 15 a 20 anos da história recente do Chelsea, como prometido aquando da fuga do pequeno mouro, à primeira contrariedade séria da sua carreira! Não, o Chelsea não era um clube qualquer nem passará a ser um clube qualquer! Os milhões de Abramovich, que apenas começaram a jorrar 10 meses antes da entrada do Mourinho (da maneira que alguns falam dá ideia que o magnata já por lá andava a desperdiçar dinheiro há uma década... quem o fez durante uma década foi o excêntrico dono do Inter de Milão e sem sucesso, não confudir!), valerão num futuro próximo novos títulos, não tenho dúvidas. Mancini é a prova viva que o dinheiro dá titulos, já Jesualdo é a prova viva que o compadrio e o sistema fazem, de burros, treinadores campeões! Mas voltemos ao Chelsea...
No inicio de uma nova década (90) o clube gasta pela primeira vez acima do milhão de libras numa temporada, nas aquisições de Andy Townsend e Dennis Wise mas as épocas inicias da década de 90 mantiveram-se frustantes, com o clube perdido a meio da tabela da Premier League e, num hábito desesperante, tornando-se presa fácil pelos clubes de divisões inferiores nas taças internas. Em 12 épocas o Chelsea foi afastado 13 vezes por clubes de divisões secundárias!
Em 1993 Glenn Hoddle é o escolhido para treinador principal, escolha essa que se revelaria acertada uma vez que, de imediato, o futebol praticado pelo Chelsea apresenta notórias melhorias, sendo a presença na final da FA Cup o resultado de uma primeira época de regresso à ribalta. Muito embora tenham sido derrotados pelo campeão inglês, Manchester United, por 4-0, resultado demasiado pesado para o que se passou em campo, estava lançada uma pequena amostra do que ambicionavam, há tanto tempo, os seus fiéis adeptos: a capacidade de luta com as melhores equipas inglesas!
O ano seguinte foi igualmente de notória progressão, com as tácticas de Hoddle a conseguirem levar uma equipa limitada, quer em número quem em habilidade, às meias-finais da Taça dos Vencedores de Taças, elevando o estatuto do clube a nível europeu. Juntando a esse estatuto o clube encetou um caminho que provaria ser o certo: com extra fundos garantidos, era necessário a presença de um jogador de inquestionável valia e reputação: a escolha recairia em Ruud Gullit, um veterano jogador holandês que brilhou em Itália e ao serviço da sua selecção, inquestionavelmente um dos 10 melhores jogadores do último quarto de século! Mas o desejo do clube em se reforçar com qualidade não se ficou por aqui: Mark Hughes seria resgatado ao colosso Man. United e Dan Petrescu, internacional romeno seria o seguinte, numa abordagem metódica de forma a abolir o tradicional kick&rush britânico por um futebol mais continental de passe e posse de bola. Se houve equipa britânica que iniciou a revolução que culminaria com a adopção, por parte dos clubes de top, do estilo europeu de jogo, esse titulo pertence ao Chelsea.
Em apenas uma temporada Gullit era designado “melhor jogador da história do clube” e Glenn Hoddle partia do clube para se tornar seleccionador inglês, no Verão de 1996. Para o seu lugar de treinador do Chelsea quem melhor… que o melhor jogador de todos os tempos do clube? Assim começa a carreira de Gullit no banco dos blues que, usando todo o seu conhecimento e influência, recruta da Serie A italiana, o ponta de lança Gianluca Vialli, assim como o centro campista internacional italiano Roberto Di Matteo e o defesa internacional francês Frank Leboeuf. Gianfranco Zola – outra estrela do calcio – assinaria meses mais tarde.
No final dessa época o clube encontrava-se novamente na final da mais importante Taça do Mundo do futebol: A Taça de Inglaterra! E desta vez o Chelsea estava preparado! Bastaram 43 segundos para Di Matteo colocar o clube em vantagem, um record para uma final em Wembley! Eddie Newton selaria o resultado final de 2-0 frente ao Middlesbrough. Uma longa espera de 26 anos terminava, o primeiro título de uma nova era estava conquistado e a sua comemoração entrou para a história!
No inicio de nova temporada, e explorando os efeitos da Lei Bosman, o Chelsea volta a atacar o mercado de jogadores, reforçando-se com jogadores da qualidade do uruguaio Gustavo Poyet e do jovem norueguês Tore André Flo, praticamente a custo zero. Seguiram-se Celestine Babayaro, o internacional inglês Graeme Le Saux e o guarda-redes holandês Ed de Goey. Estas cinco unidades provariam ser elementos de destaque nas épocas seguintes!
Essa época culminaria em novo sucesso com a vitória na Taça da Liga frente ao Middlesbrough (2-0, golos de Frank Sinclair, produto das camadas jovens e Di Matteo), mas já com Vialli no comando técnico, uma vez que, em virtude de ter recusado a renovação de contrato, Gullit acabaria por sair no início de 1998. Mas o feito maior estava reservado para Estocolmo, em Maio, quando 20 mil adeptos do Chelsea viram Zola sair do banco para marcar o único golo do jogo frente ao Estugarda e assegurar a segunda Taça dos Vencedores de Taças da história do clube! No Verão que se seguiu Frank Leboeuf fez parte da selecção francesa que conquistou o Mundial, tendo como parceiro defensivo Marcel Desailly, jogador que tinha acabado de assinar contrato pelos blues de Londres.
No inicio da temporada seguinte, 98/99, no principado do Monaco, e com um golo solitário de Gustavo Poyet, o Chelsea conquista a Supertaça Europeia, a expensas do então campeão europeu, Real Madrid! O renascimento do Chelsea como grande equipa do futebol europeu estava consumado, faltava agora consolidar o estatuto de equipa de topo do futebol britânico, juntando-se a Manchester United e Arsenal como sério candidato ao título da Premiership. A época representou o mais sério desafio ao título desde a década de 60. Finda a época, o Chelsea termina a prova em 3º lugar, a somente 4 pontos do super ManUnited, vencedor do treble (Campeonato, Taça e Liga dos Campeões!). Ficou para a história uma temporada do Chelsea em luta pelo título até final, com somente 3 derrotas em 38 jogos e com Ed de Goey a estabelecer um novo recorde de jogos sem sofrer golos! A estrutura defensiva da equipa revela-se como a melhor do futebol inglês!
Na entrada do novo milénio a equipa participa pela primeira vez na mítica Champions League, e a presença tem de ser realçada, com um notável alcance dos QF da prova, eliminados somente aos pés de um Barcelona comandado superiormente por Luis Figo, futuro bola de ouro da epoca pela France Football! Ficam no livro de recordações dos adeptos o golaço de Dennis Wise no empate em San Siro frente ao AC Milan, a categórica vitória sobre o Galatasaray (5-0!) na Turquia e a primeira mão dos QF, frente ao Barcelona, em Standford Bridge, com vitória por 3-1. Não fora o golo de Luís Figo e quem sabe onde pararia esta equipa…
Como prémio para mais uma campanha de nível fica a vitória na Taça de Inglaterra, a última disputada no antigo Estádio de Wembley, perante o Aston Villa, com golo de Roberto Di Matteo.
Vinte anos após o clube estar perto de fechar portas devido a bancarrota, Jimmy Floyd Hasselbaink foi contratado por uma soma (15 milhões de libras!) que igualava o recorde gasto em Inglaterra! O sucesso dentro das 4 linhas igualava o sucesso alcançado por habilidosos homens de negócios que conseguiram rentabilizar um clube que se encontrara outrora moribundo. Um golo do holandês no seu primeiro jogo com o clube deu a conquista da Charity Shield, o 6º troféu em somente 3 anos! Em toda a sua história o clube tinha apenas 4 títulos relevantes conquistados. O futuro era risonho para os adeptos do Chelsea, faltando somente a conquista da Premiership para dourar os seus sonhos. Mas a mesma, ninguém duvidava, era uma questão de tempo. O crescimento sustentado do clube, ao contrário de sucessos esporádicos de Blackburn e Newcastle, era real e consolidado.
Levantando o trofeu como capitão, Dennis Wise, onze anos no clube, um símbolo vivo do novo Chelsea, ele que viveu todo o período de renascimento do clube, tornando-se um idolo aos olhos dos adeptos. No entanto a época revelar-se-ia frustante, consolidando problemas entre Vialli e numerosos jogadores, sobretudo pelo falhanço nas contratações e pelo facto da equipa se encontrar envelhecida. Era chegada a altura de uma nova estratégia, bem como um novo técnico.
O escolhido seria Claudio Ranieri. Eleito para alcançar o feito desejado por todos, o titulo de campeão inglês. O objectivo não foi alcançado mas Ranieir levou o Chelsea a outra final da FA Cup em 2002, perdendo no entanto o título para o Arsenal FC.
Ken Bates vendeu o clube em Junho de 2003 para o bilionário russo Roman Abramovich, que investiu uma grande quantia de dinheiro na equipa, chegando ao vice-campeonato da Premier League na temporada 2003-2004 e à meia-final da Liga dos Campeões da UEFA. Convém, no entanto, realçar o facto do título ter sido perdido para a equipa que mais pontos fez no campeonato inglês desde o inicio do milénio, o Arsenal, equipa essa que em 38 jornadas sem manteve invicta! E, quanto à Champions League, o Chelsea só não alcançou a final da prova (e o título pela certa…) porque Hugo Ibarra, jogador do Monaco, marcou um golo com a mão, golo esse decisivo para aniquilar as hipoteses da equipa londrina.
Roman Abramovich é que não esteve pelos ajustes e, como se verificaria posteriormente, cruxifica o treinador. O italiano Claudio Ranieri foi demitido, após terminar a temporada sem títulos, dando lugar ao português José Mourinho. O sucesso do Chelsea aos comandos do português é por demais conhecido, ficando apenas por escrever uma verdade à La Palisse: o Chelsea alcançou os titulos que seriam alcançados mais cedo ou mais tarde. Mesmo sem Abramovich, mesmo sem Mourinho! O caminho fora traçado correctamente desde os primórdios da decada de 90, o crescimento foi sustentado e decidido, a equipa reforçada sempre com jogadores de valia indiscutível e incontestável… o surgimento do orçamento de Abramovich acelerou o processo. Jose Mourinho surgiu no local certo à hora certa, recolheu os louros, assim que as coisas começaram a tremer, deu de frosques, mas este Chelsea será novamente campeão inglês e vencerá, num futuro próximo, a Champions League. Nada do que foi conseguido foi obra de um profeta, e o facto de um trolha israelita estar a conseguir os resultados que se vêem, só prova a minha teoria. Reduzir o Chelsea a Mourinho é ter zero conhecimento do futebol inglês e do Chelsea. E, embora seja sobretudo “adepto” do ManUnited e do Arsenal, há muitos anos, ainda Mourinho era tradutor, a minha simpatia pelo Chelsea nasceu no dia em que Mourinho fugiu, a escassos dias de perder em Old Trafford! Era com inegável satisfação que assistiria à chegada à final da Champions da equipa que Mourinho afirmava como insuficiente. Como se um plantel constituído por Petr Cech, Ricardo Carvalho, John Terry, Ashley Cole, Michael Essien, Makelele, Frank Lampard, Michael Ballack, Joe Cole, Andrei Shevchenko e Didier Drogba, entre outras reservas de luxo, não fosse suficiente para qualquer treinador agradecer tanta qualidade! Pode-se não ganhar as provas, até porque só há um trofeu e vários adversários à altura, mas insinuar que a equipa não é competitiva só de quem se julga com o rei na barriga!
Aqui fica uma pequena lista de excelentes jogadores de nível mundial que representaram o Chelsea nos últimos 15 anos, demonstrando que havia vida pré Mourinho:
Década de 1990: Dmitri Kharine, Ed de Goey, Roberto di Matteo, Albert Ferrer, Ruud Gullit, Mark Hughes, Vinnie Jones, Frank Leboeuf, Dan Petrescu, Gianluca Vialli, Dennis Wise, Gianfranco Zola, Brian Laudrup, Graeme Le Saux, Celestine Babayaro, Pierluigi Casiraghi, Tore Andre Flo, Gustavo Poyet
Anos 2000: George Weah, Hernán Crespo, Mario Stanic, Marcel Desailly, Christian Panucci, Damien Duff, Adrian Mutu, William Gallas, Eidur Gudjohnsen, Jimmy Hasselbaink, Emmanuel Petit, Juan Verón, Jesper Gronkjaer, Zenden.