Era uma vez...
"Num quente dia de Verão, o fotógrafo aborrecia-se com o tédio da tarefa que lhe tinha sido destinada. Perdido, impacientava-se com o ócio. As moscas zuniam, farejando o forte odor a suor. Da janela aberta do automóvel era possível ouvir os sons da natureza em redor. Ali, perdidos num lugarejo esquecido pelo tempo, a espera parecia interminável. Pela enésima vez o fotógrafo olhou para o relógio. Soltou novo suspiro, misto de desespero e resignação. Faltavam duas longas horas para a caravana da volta a Portugal passar por ali. Sentindo a testa perlada de gotas de transpiração, o fotógrafo abriu a última garrafa de água. Levou à sequiosa boca o líquido morno. Fez um esgar de aborrecimento. Ao seu lado, o jornalista destacado pelo jornal dormia relaxado, a boca aberta, ressonando. O fotógrafo pousou o olhar nele. Era um jovem imberbe, estagiário, recém-contratado. Não gostava dele. Subserviente, com uma personalidade untuosa, fazia da ambição o lema da vida. O Zé Delgado não era flor que se cheirasse. Procurando abstrair-se da canícula brutal, brincava com a máquina digital, quando ouviu os gritos. Cavalgando as ondas de calor, chegaram até aos ocupantes do carro abafados pela distância. Aterradores, lancinantes, eram um misto de súplica e terror profundo.
Acorrendo ao local de onde provinham os lancinantes pedidos de socorro, os dois homens depararam com uma cena de fazer gelar o sangue.
Acorrendo ao local de onde provinham os lancinantes pedidos de socorro, os dois homens depararam com uma cena de fazer gelar o sangue.
Junto a uma árvore, defendendo-se desesperadamente das investidas de um enorme cão, de aspecto feroz, estava uma rapariguinha. As investidas do animal, com uma agressividade quase sobrenatural, eram debilmente sustidas pela miúda, no limite das suas forças. Siderados perante a imponência do animal, pelo seu rosnido violento, hesitaram na ajuda imediata.
Aparecendo como se transportado por uma qualquer mão divina, um rapaz, dos seus 17 anos, saltou da bicicleta onde passeava e atirou-se, destemido, ao animal, embrulhando-se numa luta titânica, com os corpos a confundirem-se, unidos num abraço mortal. Hipnotizados pela estranha coreografia, ficaram parados, incrédulos pela ferocidade do drama a que assistiam...Num assomo de fúria, sangrando abundantemente de várias feridas, o rapaz espeta, já com as forças a esvaírem-se, um dos raios da bicicleta, partido durante a refrega, em pleno coração da fera. Com um latido pungente, o cão soçobra, estendendo-se, quase como se dormisse.
Um estranho silêncio abateu-se sobre aquele drama. Só os soluços da rapariguinha, com a cara escondida nas mãos, cortavam o ar quente. Recompondo-se rapidamente, vendo ali a possibilidade de uma reportagem que o catapultasse para outros vôos, Zé Delgado avançou, com o bloco de notas pronto a registar o acto heróico.
Pressuroso, estendeu uma mão ao rapaz deitado. Escondeu um trejeito de nojo quando este o sujou de sangue, que escorria brilhante. Engolindo o ar em grandes golfadas, respirando com dificuldade pelo esforço da luta, o rapaz parecia alheado dos fotografias disparadas consecutivamente, abarcando a dimensão total da cena. Esboçando o seu melhor sorriso, que lhe deformava o rosto, Zé Delgado proclamou, de forma pomposa:
"Parabéns, meu rapaz. Foi um acto de grande heroismo, esse teu. Arriscaste a própria vida em prol de um teu semelhante..."
O rapaz, lívido de fraqueza, apenas assentiu com a cabeça, murmurando um agradecimento inaudível. Zé Delgado continuou:
"Felizmente para ti estava aqui eu. Assim, esse teu enorme acto de coragem não passará despercebido ao grande público. Vais ser capa de jornais, garanto-te, e esse teu gesto será reconhecido nacionalmente. Serás alvo de homenagens..."E continuou, absorto, como se declamasse para uma plateia, vendo-se a si mesmo candidato ao prémio Pullitzer.
"Até já vejo a capa de amanhã. Jovem herói, benfiquista, salva rapariguinha indefesa de cão feroz..."
Voltou-se, ao ouvir um pigarrear tímido atrás de si... o jovem, com um ar nauseado, provavelmente pelas feridas infligidas, desculpou-se educadamente:
"Mas senhor...eu não sou do benfica...".
"Ai não?", exclamou o Zé Delgado, com o rosto circunspecto, enquanto o sorriso lhe fugia..."Não, senhor. Sou do FC Porto", proclamou o jovem, humildemente."Tá bem...", finalizou o jornalista, de forma algo agressiva. Afagou por instantes os cabelos louros da rapariguinha, dirigindo-se em seguida para o carro, perante o ar atónito do fotógrafo, surpreso com a urgência da retirada.
O rapaz passou uma noite difícil. As dores que sentia, aliadas ao nervosismo que lhe corria nas veias, impediram o sono retemperador. Mal sentiu os primeiros clarões da alvorada, vestiu-se e correu, rangendo os dentes, até ao quiosque mais próximo. Queria ver a capa do jornal. A curiosidade e o orgulho aumentavam-lhe os níveis de adrenalina.
Sentiu um baque tremendo, o coração dilacerado. Ali, no expositor, em garrafais letras, logo na 1ª página, a toda a largura, hipnotizando o olhar de quem passava:
"Jovem delinquente, da claque dos SuperDragões, mutila animal indefeso". A fotografia de si, ensanguentado, olhando para a objectiva, com o cão a seus pés, ilustrava o título. As lágrimas de raiva correram livremente pelo rosto, deixando sulcos de tristeza atrás de si..."
Aparecendo como se transportado por uma qualquer mão divina, um rapaz, dos seus 17 anos, saltou da bicicleta onde passeava e atirou-se, destemido, ao animal, embrulhando-se numa luta titânica, com os corpos a confundirem-se, unidos num abraço mortal. Hipnotizados pela estranha coreografia, ficaram parados, incrédulos pela ferocidade do drama a que assistiam...Num assomo de fúria, sangrando abundantemente de várias feridas, o rapaz espeta, já com as forças a esvaírem-se, um dos raios da bicicleta, partido durante a refrega, em pleno coração da fera. Com um latido pungente, o cão soçobra, estendendo-se, quase como se dormisse.
Um estranho silêncio abateu-se sobre aquele drama. Só os soluços da rapariguinha, com a cara escondida nas mãos, cortavam o ar quente. Recompondo-se rapidamente, vendo ali a possibilidade de uma reportagem que o catapultasse para outros vôos, Zé Delgado avançou, com o bloco de notas pronto a registar o acto heróico.
Pressuroso, estendeu uma mão ao rapaz deitado. Escondeu um trejeito de nojo quando este o sujou de sangue, que escorria brilhante. Engolindo o ar em grandes golfadas, respirando com dificuldade pelo esforço da luta, o rapaz parecia alheado dos fotografias disparadas consecutivamente, abarcando a dimensão total da cena. Esboçando o seu melhor sorriso, que lhe deformava o rosto, Zé Delgado proclamou, de forma pomposa:
"Parabéns, meu rapaz. Foi um acto de grande heroismo, esse teu. Arriscaste a própria vida em prol de um teu semelhante..."
O rapaz, lívido de fraqueza, apenas assentiu com a cabeça, murmurando um agradecimento inaudível. Zé Delgado continuou:
"Felizmente para ti estava aqui eu. Assim, esse teu enorme acto de coragem não passará despercebido ao grande público. Vais ser capa de jornais, garanto-te, e esse teu gesto será reconhecido nacionalmente. Serás alvo de homenagens..."E continuou, absorto, como se declamasse para uma plateia, vendo-se a si mesmo candidato ao prémio Pullitzer.
"Até já vejo a capa de amanhã. Jovem herói, benfiquista, salva rapariguinha indefesa de cão feroz..."
Voltou-se, ao ouvir um pigarrear tímido atrás de si... o jovem, com um ar nauseado, provavelmente pelas feridas infligidas, desculpou-se educadamente:
"Mas senhor...eu não sou do benfica...".
"Ai não?", exclamou o Zé Delgado, com o rosto circunspecto, enquanto o sorriso lhe fugia..."Não, senhor. Sou do FC Porto", proclamou o jovem, humildemente."Tá bem...", finalizou o jornalista, de forma algo agressiva. Afagou por instantes os cabelos louros da rapariguinha, dirigindo-se em seguida para o carro, perante o ar atónito do fotógrafo, surpreso com a urgência da retirada.
O rapaz passou uma noite difícil. As dores que sentia, aliadas ao nervosismo que lhe corria nas veias, impediram o sono retemperador. Mal sentiu os primeiros clarões da alvorada, vestiu-se e correu, rangendo os dentes, até ao quiosque mais próximo. Queria ver a capa do jornal. A curiosidade e o orgulho aumentavam-lhe os níveis de adrenalina.
Sentiu um baque tremendo, o coração dilacerado. Ali, no expositor, em garrafais letras, logo na 1ª página, a toda a largura, hipnotizando o olhar de quem passava:
"Jovem delinquente, da claque dos SuperDragões, mutila animal indefeso". A fotografia de si, ensanguentado, olhando para a objectiva, com o cão a seus pés, ilustrava o título. As lágrimas de raiva correram livremente pelo rosto, deixando sulcos de tristeza atrás de si..."
Exemplo retirado dia 14/10/08 às 13h:
"... José António Pinto de Sousa, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF à data dos factos referidos no processo "Apito Dourado", fica hoje a saber se é pronunciado ou não relativamente às acusações de falsificação na classificação de árbitros..."
Agora reparem na imagem...
Fonte: BIBO OH PORTO!!!!!!
18 comentários:
André Kaustico disse...
amigo picareto:
Tu que estiveste em Marrocos, com certeza que la vendiam, entre outros grandes clubes europeus, camisolas do benfica, enquanto o clube regional FC Porto, não, pois ninguem conhece, certo?
Kaustico
Coloquei aqui a tua pergunta porque também estou muito curioso em saber a resposta...
Que linda caracterização da realidade portuguesa...nem tenho mais nada a acrescentar!! Aliás, tenho tanta coisa a acrescentar que o tempo obriga-me a não dizer nada por agora!!
Viva o Porto, viva o jornalismo!!!
depois de passar os olhos ...so kero k me esclareçam uma coisa:HA VOLTA A PORTUGAL EM OUTUBRO????
Já saiu a multa de o adepto ter entrado em campo e agredido um membro da equipa de arbitragem?
Caro mouro
Uma pequena historia...
Ja viste o titulo do post?
Pois é meus caros amigos, o que vende neste país é o benfica, e mais benfica.
Gostaria de fazer uma pergunta aos bloguistas?
Será que a crise é culpa do FCP? Ou será da mentalidade dos 6 milhões?
Fico à espera de respostas......com alguma curiosidade...
País: Marrocos
Cidade: Tanger
Local: Medina de Tanger
Percorria eu o maior mercado de Tanger quando me deparei com uma loja de artigos de desporto com camisolas de clubes afixados na porta...ao longe disse para mim proprio ao ver uma camisola vermelha: "lá está uma camisola do eusébio"...aproximei-me e era do Cristiano Ronaldo do Man Utd. Imediatamente ao lado vi outra camisola vermelha e pensei..."para serem 6 milhoes devem ter aqui alguns adeptos...." mas não...era uma camisola do Gerrard do Liverpool.
Pensei para os meus botões...estes marroquinos não percebem nada de futebol!
Mais a frente a mesma história....aproximei-me e era um camisola da seleccao espanhola do Torres e outra do Ribery do Bayern Munich.
Três lojas a frente vi uma camisola azul e pensei...olha uma camisola do Chelsea...mas também não...era do FC Porto.
Enfim...mouros! Afinal o que percebem eles de futebol!
é de manha e lembrei-me...
Quantos de voces já festejaram titulos do vosso clube de manha?
...é simples
Querem melhor exemplo que o do post?????????
Picareto tenho duvidas sobre o teu comentario!
Tens a certeza que nao viste nenhuma camisola encarnada do Tahar el Kalej????? :)
Eu duvido do comentário do picareto porque em Marrocos é complicado uma pessoa ver bem, parece que lá tem muito fumo!!! Eu até me admiro que tu não tenhas visto o mantorras...é que por cá eu não o tenho visto!!!!!!!!!!!
Mitico...exemplos existem todos os dias!!! é o pais que temos!!!!!
Ramos
Penso que a mentalidade a que falas tem uma pequena percentagem sobre o estado da nação. Mas nao vamos ser tao doentes... Senao chegavamos ao ridiculo, como a tvi, um dia chegou... que foi mesmo ás empresas fazer reportagens a perguntar se a economia ia subir só porque o benfica tinha sido campeao (e nao esquecer como...)
Ramos
Trata-se de um problema economico a nivel mundial e os países pequenos visto de um prisma mais optimista sao os que têm a ganhar se tiverem uma gestao inteligente...
abraço a todos
Kaustico, eu já festejei 2 titulos de manhã!
Ser Campeão do Mundo é simples!
AUTOR
Há uma semana, numa extensa entrevista, o presidente do Sporting, Filipe Soares Franco, criticou a anterior gestão. O responsável máximo dos leões disse que encontrou uma péssima situação financeira em 2005. O ex-presidente, Dias da Cunha, diz que Soares Franco "é mentiroso" e que as suas opções é que podem levar ao fim do clube.
"Soares Franco é mentiroso e, além de mentiroso, é uma pessoa que não tem respeito nenhum pelo Sporting, que vendeu mal o património e ainda não se sabe como aplicou essas verbas", disse Dias da Cunha, em entrevista à SIC.
O antigo dirigente não esconde, de resto, a preocupação com a gestão de Soares Franco: "Levar para dentro da SAD a Academia significa retirar ao Sporting a jóia do que lhe resta. Significa a morte do Sporting dentro de pouco tempo".
Será que vao mesmo acabar como disseste ah algum tempo???
"ainda não se sabe como aplicou essas verbas"
eheh
Mas onde é que raio eu disse isto uma vez?????
Maldita memoria!?!!!!!
O presidente leonino não quis comentar as declarações de Dias da Cunha, saiu da assembleia, que teve momentos quentes, visivelmente cansado e nem sequer participou na conferência de imprensa que se seguiu à reunião magna. Foram os presidentes da mesa da AG, Rogério Alves, e do Conselho Fiscal, Agostinho Abade, que explicaram no final do encontro, de 3 horas e 20 minutos, os motivos do resultado negativo de 1 milhão e 990 mil euros
"ainda não se sabe como aplicou essas verbas"
Eu ainda não perdi a esperança...as minhas previsões mantêm-se embora já andam a resistir mais tempo do que aquilo que eu pensei!!!!
Espero que o carteiro me traga mais noticias das mariscadas!!!!
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