Quando aos 80 minutos, já com o resultado a assinalar 2-5, e com o Sporting reduzido a dez jogadores, a abnegada equipa leonina constrói uma excelente jogada colectiva que termina, incrivelmente, não no fundo da baliza defendida pelos catalães mas sim na
cabeça de Valdês!, dei por mim a sorrir: assim não há moral que resista.
Começo propositadamente pelo fim de jogo porque, num momento de tristeza e desolação, como adepto não posso seguir a via rápida da crítica, maledicência, típica dos adeptos de outros clubes. Até porque, convenhamos, este Sporting pode ter perdido por três golos de diferença, mas não levou uma banhada de futebol! Podem dizer que o Barcelona jogou q.b. para triunfar, e eu concordo, podem dizer que sofrer 5 golos em casa é sempre uma humilhação, e concordo a 100%, mas eu vi os 93 minutos do jogo e vi 2 auto-golos a favorecer o Barcelona, vi uma oferta que nem a Worten publicita no primeiro golo catalão, vi um penalti fantasma e ainda vi o arbitro ser complacente com uma atitude ridícula da equipa barcelonista no terceiro golo! Sendo assim meus caros amigos (que se dignarem a ler isto), metam as violas ao saco!
Dito isto, vamos ao jogo propriamente dito. O Sporting, ao contrário do que noticiaram jornais e tv’s, não lutava pelo 1º lugar do grupo. Eu nunca proferiria tamanhas indecências, tenho perfeita noção do que vale a minha equipa e, sobretudo, acompanho o campeonato espanhol em ritmo suficiente para saber que este Barcelona, superiormente orientado por Josep Guardiola, é actualmente a equipa europeia em melhor momento de forma. O Barcelona era favorito no jogo, no grupo, e uma do lote de 5 equipas favoritas à vitória na Champions, a manter esta performance.
O que não implica, de forma alguma, que esperasse uma atitude tão passiva e reverencial da maioria dos jogadores leoninos. Todos temos noção que existem indivíduos com melhores capacidades que as nossas, sejam físicas, mentais ou de conhecimento. É bom testar os nossos limites, seriamente, e saber conviver com eles, preferencialmente aprender algo com os melhores de modo a expandir esses mesmos limites. E digo isto para catalogar as exibições de Caneira, Polga, Grimi e Romagnoli. São jogadores que, para o nível nacional, podem ser perfeitamente rotulados de bons, para a segunda linha europeia disfarçam insuficiências mas que, chegados ao topo da hierarquia, perdoem-me a linguagem, borram-se pelas pernas abaixo! E falta aqui o Abel, com esse miserável não tenho a mínima dúvida, o resultado final seria acrescido de mais 2 golos para o Barcelona. É inconcebível a jogada do primeiro golo do encontro, a forma displicente como Romagnoli, vendo Grimi destapar a defesa leonino para apoiá-lo no ataque, permitir o contra ataque barcelonista! Depois vem o erro de principiante (que é precisamente isso que ele é!) de Daniel Carriço, que tentou o desarme limpo a Messi quando teve todo o tempo do mundo para enviar a bola para a linha de fundo, cedendo canto! Mas, atenção, este miúdo tem talento, infelizmente está mais habituado a jogar pelos juniores frente ao Oeiras e Cascais nos escalões de formação, aí é fácil desarmar na área e sair a jogar… fazê-lo perante um dos melhores jogadores do mundo é imprudência e insensatez. Serve de experiência, Carriço errou mas, contas feitas, portou-se como um Homem de barba rija. Os erros de Polga e Caneira são, obviamente, imperdoáveis. Mas onde arranja o Sporting melhor, ao preço a que se propõem pagar? É aqui que entra o que referi no
post anterior, há que apostar com pujança na formação e em 3 ou 4 estrangeiros de qualidade superior. Mesmo o Sporting, que aposta em miúdos portugueses, tem uma dúzia de estrangeiros. E, como se viu ontem, não acrescentam grande coisa quando são realmente precisos. Não é ser xenófobo, é fazer uma escolha (e mesmo nesses escalões de formação podem entrar miúdos estrangeiros com qualidade, como promete ser o caso de um tal de Rabiu Ibrahim) e manter-se fiel a essa escolha.
E, se o primeiro golo não bastasse para sustentar esta tese, ver a forma infantil como Polga faz, dois minutos depois, um patético auto-golo, reforça a minha posição. Qualquer equipa, por muito boa que seja, depois disto, só pode acusar o peso do resultado, por muita boa vontade que se tenha. E assim foi, até ao intervalo, com os jogadores leoninos totalmente desinspirados, assistindo ao carrossel atacante do adversário. Mas o que é inquietante, sobretudo para quem se recorda dos embates leoninos dos últimos dois anos contra colossos europeus (a relembrar:
Inter Milão (1-0;0-1),
Bayern Munique (0-1;0-0),
Man.United (0-1;1-2) e
Roma (1-2; 2-2) onde
NUNCA cedeu mais que dois golos, onde
NUNCA perdeu por diferença superior a um golo… assistir a esta derrocada é por demais incompreensível! Falta de experiência? Não, não pode servir de desculpa, os resultados anteriormente referidos desmentem essa tese. Falta de categoria? Também não serve, senão o resultado de ontem ter-se-ia repetido nos últimos anos. Então como explicar os colapsos em Nou Camp e em Alvalade frente ao Barcelona?
Não sou o Rui Santos, não tenho a solução para o enigma. Tenho uma opinião, que passa por
confundir respeito com reverência e submissão. O Barcelona, pelo seu valor, tem de ser respeitado. O próprio Barcelona, nas palavras do seu treinador (e posteriormente de Messi), encarou o jogo com respeito pelo Sporting e seus jogadores. Aliás, não é preciso ir muito longe no tempo, basta relembrarmo-nos a forma como o Basileia consegue o milagre de empatar em Barcelona, se não é um excelentíssimo exemplo de falta de respeito pelo valor do adversário! Mas é ténue a fronteira entre respeito e submissão. O modo como os jogadores leoninos passaram a primeira parte a seguir atrás de Messi e Xavi, sem pressão nem faltas, onde se chegou ao desplante de Messi movimentar-se por um flanco, flectir para o meio e voltar ao meio campo, com 4 jogadores a segui-lo, mais parecia que eram a guarda de honra e não os adversários! Não estou a defender a porrada e cacetada, mas caramba, eram homens de azul-grená vestidos, não Deuses! E depois Caneira, que pelos vistos não sabe bater de mansinho, quando finalmente faz uma falta, é logo à patada sobre Hleb! Quer dizer, nem tanto ao mar nem tanto à terra! Enfim…
Gostei da reacção da segunda parte. O intervalo, nestas circunstâncias, faz sempre bem. O que não fez nada bem foi a forma, desavergonhada, como Messi e restante trupe catalã, executa o livre do 3º golo, com a complacência do árbitro! Não digam o contrário, ali naquele local, nenhum árbitro permite tamanha pouca-vergonha! Queria ver se numa final europeia aquilo era validado! Até porque o lance é executado mais de dois metros atrás onde foi cometida a falta. Assim qual é a equipa que aguenta? Pelos vistos a equipa leonina, que demonstrou aos seus fiéis adeptos que não cairia sem luta! E que belíssima reacção demonstrou o Sporting, com dois golos em outros tantos minutos, renascendo das cinzas. O resto não precisa de ser contado, a felicidade estava toda do lado dos espanhóis, o 4º golo é anedótico e o 5º uma farsa!
O Barcelona é de outro nível, não é uma vergonha admiti-lo, o Sporting tem de repensar a sua estrutura futebolística e a UEFA tem de entender que o futuro da arbitragem não passa pela presença de incompetentes no relvado mas sim de meios técnicos que apitarão o jogo directamente de uma cabine com tv! Só assim pode um sujeito como eu aziar à vontade, sem ficar a pensar que, se fosse ao contrário, nunca festejaria aqueles 3º e 5º golos! Essa é que é essa, doa a quem doer. Ainda aguardo o primeiro jogo europeu em que possa dizer, divertido:
“olhem, o árbitro errou a favor do Sporting!”. Isto do errar ser humano tem muito que se lhe diga…