Tribunal do Futebol

Análise da Pré-Época III - Sporting

Para finalizar a minha análise falta somente o Sporting. Comecemos pela direcção. Como é do conhecimento geral, Dias da Cunha vai iniciar o ultimo ano do seu mandato. Para muitos, sobretudo portistas, é uma desilusão, já que adoram o velhinho e os seus monólogos, qual D. Quixote, sempre a lutar contra o sistema. Quanto a mim, muito sinceramente, não sou a favor da eternização de pessoas nos cargos que ocupam. Alias, quando isso acontece é sempre sinal de duas coisas: da falta de gente competente e usurpação e corrupção de poder a que o cargo está associado. Ninguém é eterno e insubstituível e como se costuma dizer, o cemitério está carregado de gente insubstituível…

Dia da Cunha, para mim, será sempre relembrado como a pessoa que atacou Inácio no ano do título. Após um empate em Leiria, a talvez 5 jornadas do fim, criticou severamente a equipa, esquecendo-se ele que o Sporting liderava a prova e que os jogadores carregavam no corpo o estigma de 18 anos sem ganhar! Foi uma atitude estúpida e inconsciente que não teve maiores dano porque Roquette abafou o problema. Mais recentemente Dias da Cunha criticou o Sporting pela derrota em casa frente ao Penafiel (na mesma jornada em que o porto perdeu por 4-0 com o nacional), considerando ele que ou o Sporting ganharia os jogos até ao fim ou então não merecia ganhar o campeonato! Esqueceu-se ele novamente que, à altura, já o Sporting merecia liderar o campeonato e bem destacado. Nesse aspecto LFV, mesmo vendo as péssimas exibições encarnadas, nunca desanimou os jogadores e equipa técnica. São casos como este que me fazem desacreditar nas capacidades de Dias da Cunha. Já quanto às suas reclamações anti-sistema, estou eu e todos os sportinguistas do lado dele, já que é evidente que algo de muito podre está instalado no futebol português, desde as associações, passando pela federação e liga, às entidades responsáveis pela arbitragem e acabando nos delegados que observam e classificam os árbitros. É um autentico polvo siciliano que habita os esgotos do futebol português e que tem servido os interesses de Pinto da Costa, sobretudo e, ultimamente, o Benfica.

Quanto à sucessão, e ao contrário de outros clubes, não faltarão homens com competência para liderar o Sporting. Desde Bettencourt, passando por Ribeiro Teles, Ernesto Ferreira da Silva ou mesmo o caça lampiões Dias Ferreira (grande leão!), estou completamente tranquilo.

Mudando de assunto. José Peseiro manteve-se como treinador. E, apesar de tudo, creio ter sido a atitude mais sensata. Senão vejamos: é certo que perdeu tudo, mas é também verdade que o título da Superliga esteve a apenas 96 minutos de distância, o título da Uefa esteve a 30 minutos de distância e a Taça de Portugal, bem, é melhor nem falarmos nisso senão este post entra por outro blog a dentro! Como responsabilizar um homem que guiou a equipa, durante 9 meses e mais de 50 jogos, até às portas do paraíso? Só mesmo um português típico é que pode colocar as culpas no treinador. Incompetente foi Fernando Santos por exemplo, que perdeu o segundo lugar para o Benfica na época anterior quando dispôs de mais de meia dúzia de pontos de avanço! E sem Uefa nem taça de Portugal a incomodar. Peseiro merece uma segunda oportunidade, e sem ser dada por esmola. Trabalhou para ela. Se ele tivesse 1/10 do factor de caganço que Mourinho tem, teria ganho tudo.

Quanto a reforços. Pelo que se tem visto, dois deles vão entrar na equipa titular: Deivid e Edson. Foram duas contratações muito criteriosas e que encaixam muito bem na equipa. Luís Loureiro é uma boa opção para concorrer com Custódio e os jovens Nani, Semedo e Varela são apostas seguras da Academia. Com as saídas de Pedro Barbosa, Rui Jorge, Enakharire e Hugo Viana o Sporting perde quatro unidades com muito valor mas não creio que a equipa se torne mais fraca relativamente à temporada passada. O nigeriano é uma grande perda e ainda está por substituir, mas a SAD leonina não tem a liquidez suficiente que permita negar-se a estes negócios. Importante foi manter a espinha dorsal e, aguardo eu, a contratação de mais um extremo de qualidade, uma vez que apenas Douala é realmente muito pouco.

Quanto à equipa. Pelo que mostrou nos jogos amigáveis, e como seria de esperar, apresenta uma consistência de jogo muito boa, dando a entender aos adeptos que não será necessário “queimar” as primeiras jornadas à procura de um modelo de jogo e uma equipa titular. Gostei ver sobretudo o novo Rochemback, em excelente forma física e com grande autoridade a meio campo, e Moutinho que promete afirmar-se definitivamente como um excelente playmaker. Edson para já ainda não mostrou grande segurança defensiva mas todos conhecemos as excelentes exibições em Leiria. Douala está em grande, prometendo, em ano de Mundial, uma época em cheio. Quanto à segurança defensiva da equipa, assistem-se aos erros do costume mas como disse Peseiro e muito bem, esta equipa leonina está fadada para sofrer mais golos que os adversários, uma vez que tem uma estrutura de jogo virada para o ataque. Daqui se compreende a extrema necessidade do Sporting ter um ataque concretizar e eficiente. Caso contrário a culpa sobrará para Peseiro.

Para acabar não posso deixar de fazer uma referência ao jogo Sporting – Udinese. É ingrato ver um jogo daqueles. É ingrato ver o Sporting deter 70% da posse de bola (e não foi a troca-la na defesa que fez com que essa posse de bola fosse tão elevada…), tenha mais 20 remates que o adversário (23-3) e mais 11 cantos (11-0), seja derrotada por um erro grosseiro de arbitragem. Kyros Vassaras tinha a obrigação e competência para ter ajuizado correctamente. E, se foi tão pronto ao assinalar esse penalti, ao menos tinha sido coerente e correcto e assinalado igualmente os dois penaltis, claros, a favor do Sporting. Assim, e sem mais estatística, se transforma um possível 2-0 num 0-1. Meus amigos, isto é futebol, errar é humano, mas custa engolir sapos destes quando se assiste a 90 minutos de bom futebol, de futebol de ataque, e se vê a equipa perder o jogo de forma inglória. Mas eu acredito! Acredito na vitória em Udine e acredito na entrada na Liga dos Campeões. E, depois do que se viu ontem, como se pode criticar Dias da Cunha por falar nas arbitragens? E como se pode criticar Peseiro e o seu modelo de jogo? Eu, como todos os que estavam no estádio, e certamente todos os sportinguistas, só restou fazer uma coisa no fim do jogo: levantar-me e aplaudir a equipa! A cair caímos de pé e com honra. E do meu Sporting é isso que eu quero sempre: honra e dignidade dentro de campo.

Força Sporting!