Olhos de Águia - A Blogonovela do Futebol Português

As personagens desta história são imaginárias, qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência.

Episódio 1

Em meados de Fevereiro Luís recebe um telefonema do seu amigo de longa data Jorge. Ao ver no visor do seu Nokia o nome de Jorge a piscar, Luís pede desculpa aos seus companheiros de jantarada e desloca-se à casa de banho.

LFV - “Então Jorge tudo bem? Tava aqui a jantar com Zé e o Lucílio….não, não te preocupes que o Zé não percebeu….pois é pá que saudades daqueles tempos de Viena e Tóquio…já o Zé me falou que ainda guarda religiosamente o Dragão de Ouro no cofre do banco das Seychelles.”

A conversa estava animada e ficou combinado encontrarem-se os dois nessa semana para discutir um assunto relacionado com um jogador brasileiro que estaria a causar furor no Brasil. Chegando à mesa meia hora depois, já com a francesinha fria e as batatas fritas encharcadas pelo molho que entretanto já arrefecera, Luis foi interpelado por Zé que com tom de brincadeira lhe pergunta:

JV – “Tava preso o calhau oh Luís? não me digas que a brasileira te pôs o dedinho?”

LFV – “Ligou-me o Bruno a agradecer-nos pelo relógio do centenário”.

LB – “Manda-lhe um abraço meu” – disse Lucílio.

Nessa altura Luis conhecia bem as incompatibilidades de Jorge com Zé e procurava sempre esconder do último os encontros casuais (ou não) com Jorge ao bom estilo de esposa (Zé) e amante (Jorge), daí ter combinado o encontro com Jorge na Passerelle, casa de convívio raramente frequentada por Zé que por sua vez era cliente habitual de outro estabelecimento da mesma área de comércio.

JM - “Eia pá oh Luís, tou perdidinho aqui pela Sheila…isto aqui é só mulherio de qualidade.”

LFV - “Pois é Jorge, comigo isto é assim…então quando vender os cartões de sócio àqueles pacóvios até monto o meu próprio estabelecimento, qual Reinaldo qual quê, toda a gente sabe que esse gajo não tem poder nenhum e só controla joguitos do Gondomar e do S. Pedro da Cova…em Alverca é que vai ser qualidade, de Primeira Liga, olha para o que te digo!”

Jorge ficara impressionado com a serenidade de Luis que lhe falara com os olhos a brilhar enquanto agitava o seu copo de Jack Daniels 20 anos com o dedo indicador direito.

JM – “Luís passa-se o seguinte, tenho um jogador no Brasil que está mortinho por vir para cá e como sabes dou-te preferência a ti pá”

LFV – “Ei pá! Oh Jorge isto vai me meter numa confusão…imagina o que o Zé vai dizer?”

JM – “Mas isso do Zé é a sério ou só precisavas de uma pintura no teu Mercedes?” disse Jorge em tom de chacota.

LFV – “Oh Jorge não brinques com isto…eu calçei esta meia e agora não a consigo descalçar…o gajo é uma besta mas controla-me esta merda toda…tens visto os jogos do Desportivo de Lisboa? Impecável pá…nem é preciso reforçar a equipa, fica muito mais barato ter o gajo a minar tudo. Com ele e o Cunha durmo descansadinho, até tenho tempo para me dedicar ao meu novo negócio dos barcos!”

JM – “Agora andas nos barcos? E os pneus?

LFV – “Não sejas anjinho Jorge…recebi as ajudas financeiras do estado, mandei o guito pa conta na Suiça e abri falência! Tu não tens uma empresa? Faz o mesmo, é tiro e queda!”

JM – “É bem pensado, mas olha voltando ao assunto, achas que o Zé ia ficar fodido de fazeres negócio comigo…ele vai ter de saber…”

LFV – “Não tenhas problemas, assinamos já isso e no final da época o gajo vai pó olho da rua e não há stresses…se perdermos o campeonato que é o mais certo com esta equipa de merda que nem levada ao colo se safa, vão rolar cabeças e a minha não é…” disse Luis enquanto tira a sua caneta do Passerelle do bolso e assina o contrato empunhado por Jorge.

Assinaram o contrato do tal jogador brasileiro de nome Diego ficando assim combinado no início da próxima época o ingresso do jogador no plantel do Desportivo de Benfica.

A história teria um final feliz não fosse o bom trabalho de Zé e Cunha que levaram o Desportivo ao titulo nacional que deixou Luis radiante e ao mesmo tempo com um imbróglio que teria de ser resolvido com mestria…Diego, o tal que vinha do Fluminense via Jorge.
Decorria o mês de Julho quando Luis convida Jorge para a sua quinta em Alverca para falarem do tal reforço. Nesse dia encontrava-se Zé e a sua companheira brasileira Jacira na quinta da Luis a convite do próprio. Ficara combinado que Jorge deveria esperar nas traseiras da quinta no carro com os faróis apagados e quando Zé saísse para levar a sua companheira ao emprego, este entrava. Assim foi, e após sinal de luzes correspondido por Luis, Jorge entra na quinta esbaforido com uma notícia:

JM - “O Clube de Futebol do Porto levou-te o Sokota pá!”

LFV – “Deixa lá isso…não precisamos desse manco, para a semana tá aí o Tomasson para assinar…tá tudo tratado…a mim ninguém me come de cebolada, isto vai ser uma bomba! E não digas nada a ninguém mas para o ano tou a pensar trazer o Ronaldinho do Barcelona!”

JM – “Amanha tá aí o puto para a apresentação…como é?”

LFV – “Oh Jorge, eu não posso mandar o Zé embora, e tive agora a falar com ele e o gajo saiu daqui todo fodido…até me partiu ali o vidro da porta porque não quer o puto cá, só se puseres o gajo a jogar no Brasil mais um ano e depois vem para cá.”

JM – “Eu por mim tudo bem, é chato é para vocês que têm de lhe pagar o ordenado…”

LFV – “Caga nisso, isto do cartão tem sido uma limpeza…é só otários emigrantes a meterem-se sócios e nem vêm ver os jogos. Ainda por cima eles ainda têm a ilusão de que o Desportivo de Lisboa é um grande na Europa como era quando eles saíram de Portugal! Se eles soubessem oh Jorge…ha ha ha…ha ha ha ha ha”…

Luis solta uma gargalhada sonora no final da frase com hálito a William Lawsons de fraca qualidade! Jorge fica pensativo mas satisfeito pois no seu interior sabe que a sua aproximação ao Desportivo de Lisboa o levará a juntar mais uns milhares de euros à sua conta bancária…palavra de presidente de 1 e sócio de 3…!

Continua….