Champions

Chegou o momento. Pela primeira vez na história da maior competição de clubes do planeta, dois clubes da mesma cidade encontram-se para disputar a final. Situação altamente improvável, nos tempos que correm provavelmente só as cidades de Londres (com Chelsea e Arsenal) e possivelmente Milão (com AC Milan e Inter) poderiam aspirar a esse feito, e em tempos não muito longínquos provavelmente sonharam ser possível. Mas foi Madrid a alcançar o improvável, não por causa do gigante Real, habituado a finais apesar de falhar a mesma há 12 anos, mas pelo pequeno Atletico, que caiu nos infernos da segunda divisão espanhola não há muito tempo e que lutava essencialmente para alcançar um lugar nas provas europeias, via la liga. Segredos para o sucesso? Tem um nome, tal como o Porto também tinha um nome em 2004: o nome do treinador evidentemente! Diego Simeone. A venda milionária de Fernando Torres em anos transactos não trouxe propriamente frutos ao clube, deu para renovar o plantel mas sobretudo comprar nova truta: Kun Aguero. E o mesmo se passou com a venda do argentino, com os milhões a serem gastos em Radamel Falcao. Mas desta vez, provavelmente com a mestria e sabedoria de Simeone, os milhões resultantes da venda de mais um craque ponta de lança, bom para conseguir exibições mas insuficiente para alcançar titulos, resultou na construção de um plantel de qualidade e sem a preocupção principal em adquirir um astro a preços proibitivos. Foi essa a fórmula secreta? Parte do sucesso recaí aí mesmo, uma equipa não pode ser construída unicamente em torno de um jogador, e o insucesso Real com CR7 na Champions e a real queda de qualidade do Barcelona de Messi são a prova disso mesmo, o Atletico Madrid pode ter em Diego Costa um jogador de top mas na sua ausência a equipa tem sabido criar soluções e mantido o rumo das vitórias, algo impensável para o Real, por exemplo, sem Cristiano.

O caminho de ambas as equipas para a final foi excepcional, somente um empate na fase de grupos, sendo que na fase final, o Atletico teve adversários de renome mas concedeu somente dois empates (e somente 3 golos em 6 jogos!) e o Real sobreviveu aos fantasmas alemães e superou os dois colossos, pese embora o fiasco em Dortmund, esteve seguro por um fio, como todos se recordarão. A eliminatória com o Bayern, pese o desequilibrio, foi baseada somente num factor: contra-ataque puro e duro! Pior mesmo só o Inter em 2010, mas esses, ao menos, ainda fizeram uma eliminatória caseira com 45 minutos brilhantes, virando o 0-1 para o 3-1 final! Não quero com isso retirar mérito ao Real, mas a facilidade com que esmagaram os bávaros dificilmente se verá com os colchoneros, uma vez que Simeone não dará oportunidade para que as estrelas madrilenas façam o que mais gostam e, no fundo, o que todos gostam: jogar em contra ataque, o caminho supostamente dos mais fracos. E se o Real quer finalmente a mitica décima, deveria na minha opinião fazer por merece-la.  

Estão lançados os dados, espera-se um jogo digno de uma final, sou adepto desde miudo do Sporting mas por essa europa fora tenho dois clubes com os quais sempre simpatizei: Bayern e Real. Mas isso nunca invalidou que, em momentos diversos, torcesse por alguns dos seus rivais, e provavelmente hoje será mais uma dessas noites, ninguém pode ficar indiferente ao brilhante percurso a que os americanos chamariam "underdogs", num trajecto que apaixonaria Hollywood pela sua improbabilidade. Entre ver uns a ganhar a décima e outros a festejar a primeira, não é dificil escolher quem apoiar. Sairei deste dia satisfeito, qualquer que seja o resultado, mas um nome leva-me a ter uma preferência inicial: Diego Simeone, um treinador improvável que até conseguiu o impossível, fazer de Diego um jogador de equipa!