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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Consultório do Pirata - 7ª Sessão: Balanço final do Mundial

O que ficou de Africa? O que será recordado dentro de vinte anos? Bem, talvez as vuvuzelas, o polvo Paul e o par da Larissa.


Ainda assim foi um Mundial interessante. Não tanto pelo futebol jogado, sobretudo porque poupou os adeptos de intermináveis prolongamentos e decisões por penalties. Parece que não mas desde o mundial de Itália’90 que a moda, a partir da fase do “mata-mata”, era jogar para não perder e tentar o apuramento na roleta dos penalties. Na África do Sul, dos 16 jogos a eliminar, somente 4 tiveram prolongamento e, desses, somente dois foram decididos na lotaria, com vitórias de Paraguai e Uruguai sobre Japão e Gana, respectivamente. Aliás, o Gana bisa, dos 4 jogos referidos, 2 têm a selecção africana como protagonista, que eliminaram os EUA no prolongamento e foram batidos pelos uruguaios, no tal jogo em que Luis Suarez se sacrificou para dar as meias finais ao seu País. O choradinho africano, após o penalty desperdiçado de Asamoah, fica na história como a mais idiótica manifestação de mau perder em Mundiais, até parece que cortar a bola com a mão em cima da linha de baliza é algo virgem no futebol.

Na minha opinião apenas seis selecções puderam sair da prova de cabeça bem levantada, como se pode comprovar na tabela seguinte:

São elas: Holanda, Uruguai, Alemanha, Espanha, Gana e Paraguai. Todas elas excederam as expectativas, com a excepção dos espanhóis, que embora tenham ganho a prova, a verdade é que eram apontados como os favoritos, a par do Brasil, e fizeram-no com muita pouca classe, tornando-se os campeões mundiais com menos golos marcados na já longa história da prova:


Factos são factos, e este é um facto relevante: apesar de ter sido um mundial aberto, como há muito não se via, a Espanha optou por comportar-se como uma verdadeira “empata-fodas”, congelando a posse de bola, não com a intenção de fazer golos mas apenas procurando desgastar o adversário para, então, marcar o golo da vitória. Esta teoria tem algo de tauromáquico, bem ao gosto espanhol, mas duvido que se ouvissem muitos olés das bancadas e se pedisse as orelhas do touro, afinal as vitórias foram conseguidas não por estocadas brilhantes e mortais mas somente pelo desgaste, qual toureiro montado a cavalo, picando o animal durante horas até este desfalecer de cansaço. Bem, quem gosta de touradas até pode ter ficado satisfeito, mas para mim meter a bolinha no buraquinho ainda é a parte mais interessante do jogo.

Sendo assim, e até porque a Espanha entrou em prova após golear a Polónia em jogo amigável (6-0, quase tantos golos como nos 7 jogos na caminhada para o título…) com o estatuto de favorita, a par do Brasil, mantenho a ordem da tabela acima, não atribuo aos espanhóis a melhor nota pela performance alcançada, em virtude da mesma ter algo de previsível, tal como previsível foi o amparo, qual bebé, que os árbitros lhes tributaram.

O primeiro lugar fica dividido entre três selecções que alcançaram mais do que à partida lhes era prognosticado, sem bem que no caso germânico, que possuem no currículo 12 participações em meias finais de Mundiais, em 17 participações na competição, fosse algo expectável, pelo menos teoricamente. Mas a forma avassaladora como limparam a concorrência para atingir essa fase foi excitante, tornando-os nos grandes animadores da competição. A Holanda, que fez 17 jogos entre apuramento e fase final, alcançando 16 vitórias e 1 empate (a final acabou empatada aos 90 minutos), teve um comportamento de grande nível, muito embora no que a qualidade e excelência do seu futebol não superasse os seus antepassados, que lograram duas finais na década de 70 do século passado, ou os que brilhantemente venceram o europeu em 1988, inclusive os seus compatriotas que brilharam ao longo da década de 90. Foi uma Holanda mais pragmática do que estávamos habituados a ver, tendo Sneijder e Robben os papeis de desequilibradores, que executaram com grande classe, exceptuando Robben na final, que ficará para sempre na sua memória pelos inacreditáveis falhanços. Já o Uruguai, que muitos nem acreditavam sequer que conseguisse sair da fase de grupos, com muita raça, talento e sorte, que costuma proteger os audazes, lutou até à exaustão por um lugar na história, vendendo caras as derrotas nos jogos das meias finais e de atribuição do 3º lugar. Uma equipa relativamente modesta mas que consagrou um grande jogador, Diego Forlan, um craque a finalizar, a criar jogo e a ajudar os seus colegas na hora de defender e lutar pela posse de bola. É raro assistir a justiça feita pela FIFA mas desta vez ninguém pode nega-lo, Forlan mereceu o estatuto de MVP do Mundial.
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Quanto a desilusões, duas saltam aos olhos de todos, precisamente as duas selecções finalistas do ultimo mundial: a campeã Itália e a vice campeã França. Mas, se no caso dos franceses, dificilmente alguém daria algo por eles, estariam condenados a não fazerem muito mais do que os oitavos-de-final (basta recordar a forma escandalosa como conseguiram o apuramento para a competição e o facto de terem uma besta ignorante como seleccionador...) já a Itália, não partindo (como sempre) favorita ao título, tinha legítimas aspirações a lutar por ele, sendo o mínimo exigível a presença nos quartos-de-final da prova. A forma displicente como entraram em competição contra o Paraguai (ainda assim um empate que não deixou de ter um sabor agradável) não lhes serviu como aviso, encarando os amadoríssimos da Nova Zelândia como uma brincadeira. Pois saiu-lhes cara a brincadeira, novo empate implicaria ter de jogar contra a Eslováquia com atitude até então não demonstrada, muito embora ainda pudessem ceder novo empate para se apurarem. A imagem que fica dos transalpinos foi a de fraco profissionalismo, apenas quando os eslovacos se colocaram em vantagem no marcador se viu, pela primeira vez na prova, a força e qualidade da Itália. Pois foi tarde, e ainda bem que foi tarde, quem despreza e menospreza desta forma os seus rivais não merece complacência, ficou para o album da história dos Mundiais a pior prestação de sempre de um campeão a defender o seu título.
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Participação Portuguesa
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A nossa participação roçou a mediania, ficamos com o mérito da maior goleada da prova (goleada essa que nunca teria sucedido se tivessemos aberto a competição com os norte coreanos ou os tivessemos defrontado no ultimo jogo da fase de grupos, nem é preciso explicar a razão pois não?...) mas não conseguimos marcar um golo que fosse aos restantes oponentes, desde Costa do Marfim passando pelo Brasil e pela Espanha. Adversários dificeis? Evidentemente que sim, mas não foi o Carlos que, após a eliminação da Bósnia, afirmou que queria ser campeão mundial? Contra quem? Coreia do Norte, Panamá e Fidji? Pela boca morre o peixe, esta selecção, ainda para mais comandada por um idiota, já fez mais do que a sua obrigação, passando o grupo. No entanto, se houvesse ousadia no confronto com o Brasil, e tendo a possibilidade de defrontar Chile e não a Espanha, mais uma vez ficou claro o quão errada foi a opção Queirós para comandar uma selecção que na última década tem brilhado nos grandes palcos.


Na sua já conhecida habilidade com as palavras, Queiros afirmou que Portugal saiu da cabeça erguida. Pergunto eu: do que vale sair de cabeça erguida quando se anda de joelhos? Selecção tao pouca ambiciosa nem em 2002, onde o problema principal foi a arrogância com que se encarou os adversários, particularmente os norte americanos. Qual foi o problema na África do Sul? Todos viram a forma como os espanhois festejaram a eliminação portuguesa, eles temiam-nos e não era pouco! Mas temiam que Portugal? Este? O do Carlos? Não, nem por sombras, eles temiam o Portugal que os correu a biqueiro do Euro'2004 por exemplo, o Portugal que tem brilhado nesta década, no entanto o Carlos para além de ter trazido de volta o medo e o receio ainda conseguiu tolher o nosso melhor avançado, Cristiano Ronaldo, que curiosamente só marcou um golo desde que Queiros assumiu os comandos técnicos da selecção. Falta a Queiros liderança, nunca foi um líder a não ser com a criançada, e essa falta de liderança é sentida pelos adeptos mas sobretudo pelos jogadores que pura e simplesmente não o respeitam. Os casos com Deco, Nani e Cristiano Ronaldo, sempre abafados e com constantes desmentidos, não escondem o mau ambiente que se viveu na concentração e estágio da selecção, sobrando da prova a imagem de Queiros, apos o golo da Espanha a vociferar para dentro de campo e, atras dele, de perna cruzada como se estivesse numa esplanada, o brasileiro Deco, positivamente borrifando-se para o que se passava dentro do relvado! É este o espirito que queremos na nossa selecção? E que dizer de Pepe, que no fim do jogo com os espanhois, era só abraços e sorrisos para com os seus colegas do Real Madrid? Acho que ninguem fica admirado com tudo isto, nunca houve uma verdadeira união naquele grupo, que saudades em ver Maniche correndo para Scolari para festejar, o mesmo Maniche que antes tinha sido disciplinado pelo brasileiro por displicência em jogo amigável com a Espanha! A isto chama-se liderança meus caros, e os jogadores são como os cães, se uns conseguem sentir o medo nas pessoas estes conseguem sentir a falta de coragem e disciplina. Mas o futuro falará por mim, seguramente...

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