O professor Jesualdo Ferreira que é campeão nacional é muito diferente do professor Jesualdo Ferreira que não era?
Não, absolutamente nada. Não havia nenhuma razão para ser diferente. Em absoluto. Nem encontro motivos para poder ser diferente.
O título não mudou nada? Não sente que acrescentou finalmente o que faltava à sua carreira?
Não sei se faltava alguma coisa na minha carreira. Sei que este título permitiu-me alcançar alguma coisa que não tinha conseguido nunca antes. Quer queiramos, quer não, para a avaliação das pessoas, especialmente em futebol, os títulos são fundamentais. Quem não ganha não é reconhecido e, às vezes, mesmo ganhando também não. É mais um elemento que junto ao meu trabalho e à minha carreira que é longa, diversificada, nem sempre numa linha de continuidade que todos gostaríamos e poucas pessoas se podem gabar disso. Mas do ponto de vista pessoal não mudou absolutamente nada.
O professor, nos últimos tempos, não parece uma pessoa feliz. Sente-se injustiçado com as criticas? Está zangado com o futebol?
Zangado, nem por isso. Se me perguntar se estou eufórico, não estou. Estou satisfeito, mas não estou feliz. É um risco do meu temperamento. Também quando me viram perder nunca me viram no buraco, nem deprimido. Não me sinto feliz porque acho que ficou muita coisa por fazer. A dada altura tivemos tudo na mão para fazer muito melhor do que fizemos. Aliás, algumas criticas considero justas. Aceito-as perfeitamente. São justas pelo que as pessoas vêem, mas que não o sejam na causa, que lhes escapa. Depois, há outras críticas com as quais perco pouco tempo, que são de ataque pessoal e de estratégia montada. Aquelas que fizeram ao FC Porto na pessoa do treinador, ao balneário, tentativas para levar até ao fim truques para o FC Porto não ser campeão. Deu-me raiva não conseguir prolongar aquele estado de superioridade evidente.
Vem sendo noticiadas possíveis alterações na equipa técnica, nomeadamente a saída de Carlos Azenha...
A equipa técnica trabalhou toda a época com fantasmas. Alguma imprensa, jornalistas e jornal foi montando as coisas e ficou uma coisa de fora, a peça do Carlos Azenha. Isso do Azenha devia ter entrada muito antes. Só se foi para prejudicar o jogo com o Leixões.
Depreendo que não estão previstas alterações
Neste momento não. Se o quadro se mantiver como está neste momento, não há razão para mudanças.
Uma semana depois de ser campeão foi questionado publicamente se continuaria no FC Porto.
Quando me perguntaram isso não respondi e fui embora. Essa pergunta até tem lógica perante o que foi sendo publicado na imprensa. tem lógica. Agora, era o que faltava eu andar com as mãos no ar a dizer que era mentira.
Apito Dourado
O apito dourado não mexeu com a liderança, é que o FC Porto foi campeão mesmo sem apitos dourados. É estranho entregar o apito dourado ao Norte e ao FC Porto, mais ninguém está envolvido? A conotação com o FC Porto e o Boavista é uma forma de alterar o circuito. É essa a estratégia e deixaram a equipa entregue ao treinador e às suas competências e aos jogadores, portanto, o apito dourado não teve consequências e o FC Porto foi campeão e isto custa até para o próprio processo. O FC Porto ganhou o campeonato em pleno julgamento do apito dourado, o que deu um gozo muito grande ao presidente. Custa o FC porto ganhar, entendo agora porque é que custa. Era perceptível quando estava fora porque ganhava o FC Porto e não era por causa do apito dourado, era porque era melhor.
Na entrevista à SIC a sua opinião sobre os adeptos do Benfica criou alguma celeuma. Acho que isso poderá afastá-lo da imagem que criou no Benfica?
Eu percebo onde quer chegar. Magoa-me um bocadinho que tentem servir-se do meu passado como treinador para fazer uma colagem ao Benfica pela negativa. Custa-me, não gosto. Posso entender que as pessoas se refiram a isso, já não aceito muito bem que constituam uma linha de comportamento por ter sido treinador do Benfica, como se a minha vida tenha de ficar para sempre ligada onde trabalhei, onde cumpri o meu contrato, fiz as minhas obrigações. Sei que farão a mesma coisa quando um dia sair do FC Porto. São situações que me criam alguma mágoa enquanto treinador do FC Porto, clube onde tenho um enorme prazer em estar. Acho que ficou claro a minha satisfação por ter chegado aqui. Não sou uma pessoa de fazer grandes cenas, acho que sou, nessas situações, uma pessoa clara, aberta. Sou puro.