Carlos Gomes, antigo guarda-redes do Sporting e da Selecção Nacional, faleceu esta segunda-feira no Barreiro, vítima de doença prolongada. Aos 73 anos, desaparece uma figura mítica, que alguns dizem ter sido o melhor guarda-redes da história do futebol português, e de que todos recordam a irreverência, imagem de marca de um rebelde.
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Carlos António do Carmo Costa Gomes nasceu no Barreiro, a 18 de Janeiro de 1932. Protagonizou uma das carreiras mais atribuladas do futebol português, muito por culpa da sua forte convicção e irreverência. Com uma vocação fabulosa para o lugar de guarda-redes, aos 18 anos ingressou em Alvalade, vindo do Barreirense, tal como João Azevedo. Quando os dirigentes «leoninos» foram a sua casa para o contratar não se conteve, falando das injustiças sociais, da dignidade violada, do desrespeito e forma esclavagista de tratar os jogadores como se fossem mera mercadoria.
Disseram-lhe que se calasse, que o Barreirense receberia 50 contos pela transferência e ele mais 10. Não se calou, e exigiu 50 só para si. Ribeiro Ferreira, presidente do Sporting, sabendo que precisava de um guarda-redes para substituir Azevedo, cedeu. Seria suplente de Azevedo, «o gato de Frankfurt» durante um ano, e aos 19 anos a camisola número 1 já era sua.
Depressa se tornou ídolo dos sportinguistas, e ao longo de seis anos foi somando títulos, multas e suspensões. Descontente com a remuneração que auferia no Sporting, depois de se sagrar novamente campeão em 1957/58 e após um largo «braço-de-ferro», transferiu-se para o futebol espanhol pela mão de Alejandro Scopelli, que o levou para Granada. Em Espanha conseguiu uma remuneração oito vezes superior à que auferia em Portugal. O Sporting também ganhou bom dinheiro com o negócio (um milhão de pesetas). Os clubes grandes continuaram na sua peugada, concretamente o Real Madrid e o Barcelona, mas os dirigentes «leoninos» deixaram-no apenas transferir-se para o Oviedo. Pelo meio, o Benfica ainda tentou contratá-lo, utilizando o Salgueiros como intermediário. Em 1961 regressou a Lisboa, para assinar de novo pelo Sporting, exigiu o salário mais alto da equipa, e o acordo não se concretizou.
Ofereceu-se ao Atlético, tinha 29 anos, mas foi acusado de violação por uma rapariga, na altura empregada num dos seus negócios, uma loja de fotografias. Jurou que tinha sido uma cilada montada pela PIDE e por dirigentes do Sporting, e fugiu para o exílio. Num jogo contra o Guimarães, simulou uma lesão logo após o intervalo, e escapou-se para terras espanholas.
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Mais tarde contou o plano, «concentrei-me com a equipa, para não levantar suspeitas. Tentaria não só fazer um bom jogo, como teria de lesionar-me, porque enquanto durasse a cura, ninguém haveria de suspeitar e ganharia alguns dias preciosos. Não fiz um jogo extraordinário, mas lesionei-me como o previsto. Perto do vestiário, voltei-me para terreno e para o público, enquanto chorava em silêncio...».
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De Espanha seguiu para Marrocos. Ainda jogou em Tânger, no clube da...polícia. Conseguiu, mais tarde o estatuto de refugiado político. As suas exibições fizeram tal furor que emissários do Rei de Marrocos o convidaram a fazer-se muçulmano e a mudar de nome e nacionalidade. Não aceitou. Em 1963 foi liberto pelo Sporting, jogou mais dois anos, mas continuou ligado ao futebol, tornando-se treinador de sucesso, passou pela Argélia e Tunísia, regressando a Portugal nos anos 80. Radicou-se depois em Espanha, onde possui negócios de hotelaria.
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Como guarda-redes tinha uma curiosidade, actuava na baliza sempre vestido de preto. Um dia, um jornalista espanhol perguntou-lhe o motivo. E ele não o escondeu: «visto-me de preto, pois enquanto o futebol português estiver nas mãos dos doutores está de luto.»
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CURRICULUM:
CURRICULUM:
Carlos António do Carmo Costa Gomes Local de Nascimento: Barreiro
Data de Nascimento: 18 de Janeiro de 1932 Início de Carreira no Sporting: 1950/51 Títulos conquistados ao serviço do Sporting: 4 Campeonatos Nacionais (1951/52, 1952/53, 1953/54 e 1957/58) 1 Taça de Portugal (1953/54) Internacionalizações: 18
3 comentários:
Mais tarde publicarei aqui extractos de uma entrevista dada por Carlos Gomes a ABOLA, ha uns meses atras, onde ele contava episodios de uma vida que teve de tudo, do bom e do muito mau. Apesar de orgulhoso e de fortes convicções, Carlos Gomes deu claros sinais que estava arrependido de certas atitudes tomadas enquanto jovem, idade onde a casmurrice e falta de experiência pode levar uma pessoa a tomar decisões que transformam uma vida.
Carlos Gomes era um idolo, fez uma carreira brilhante e só nao jogou no Real Madrid de Puskas e Di Stefano porque criou inimogos importantes que se vingaram nessa altura. Só prova que na vida temos de ter o devido cuidado nas relações humanas e onde o nosso orgulho não pode vir em primeiro lugar, custe o que custar. Carlos Gomes merecia mais consideração mas foi ele proprio que cavou a sua sepultura.
Paz à sua alma
Amigo Pirata
Penso que este post é digno de se por mas penso que a isto devias ter juntado o jogo de ontem. Jose Peseiro nao vai embora deste mundo mas vai embora do sporting.
Que equipa tao fragil!
Que jogadores tão moles!
Jogadores mimados que, nitidamente, querem ver o seu treinador a ir embora!
Já parece um sector defensivo que eu cá conheco...
Um abraço a todos
Jose peseiro será tema de post brevemente. Nao estou a evitar, estou a reflectir...
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