As desculpas do Barbas

Há em Queirós algo que o trama, talvez o cognome de Professor irrite a malta, farta de aturar as choraminguices da classe de bandalhos que chora por não querer largar a mama; talvez pelo facto de constatar sempre o óbvio, quer seja antes ou após os jogos, sacudindo com enorme facilidade as responsabilidades das suas costas, esquecendo-se que os cento e cinquenta mil euros mensais que cai na sua conta não são sacudidos para as contas dos dez milhões de tugas que começam a ficar fartos dele e da sua ridícula barba. Até essa, a dita barba, o trama, então um Professor que se quer científico opta pela mais elementar regra de superstição, assim que as coisas começam a dar para o torto?

Há, no entanto, algo a favor de Queirós. Ou melhor, esse algo seria um enorme contra mas, como estamos a falar de portugueses, a lógica nem sempre funciona como Descartes a previu. Luis Filipe Scolari, que teve de facto um ano para preparar a selecção nacional, foi chamado não para pegar numa geração de ouro mas sim para fazer a transição entre essa geração e a seguinte! Lançou no seu mandato 30 novos jogadores de quinas ao peito, promoveu a naturalização de brasileiros sem receios das críticas, manteve os egos de estrelas como Figo e Rui Costa perfeitamente controlados, soube distanciar-se dos grupos de pressão de clubes e jornalistas a mando de clubes, soube ser líder de balneário e soube, sobretudo, unir uma nação em torno da sua família, a família Scolari como ficou conhecida. Eram sempre os mesmos convocados? Quando se tem não mais do que 30 dias em 365 dias anuais para treinar colectivamente, qual a lógica de remexer constantemente uma equipa? Qual a lógica de chamar Orlando Sá quando nem sequer tinha 30 minutos de liga profissional nas pernas?

Constatemos uma verdade inequívoca: tudo e todos podem ser criticáveis. Desde Barack Obama e os seus dois meses sem alterações no panorama mundial, até Mourinho e o seu constante fracasso na Champions League, mesmo dispondo de milhões para gastar em reforços, como os 45 milhões pessimamente dispendidos nos enormes flops que se revelaram Mancini e Quaresma. Ninguém está acima das críticas e da má língua. Tem é de existir coerência. Sem coerência quem critica não passa de um palerma. Dito de outra forma, quem se apressava a criticar Scolari não pode agora procurar desculpas para segurar o Professor Queirós! É indigno, é incoerente e sobretudo é ridículo!

Carlos Queirós sempre se considerou superior à malta. Assim ao estilo Cristiano Ronaldo. Mas este, verdade seja dita, tem a coroa de melhor do mundo para sustentar a sua pose de arrogância. Que tem Queirós? Uma mão cheia de nada e outra de coisa alguma! Dois títulos mundiais de juniores conseguidos com mérito mas igualmente porque pode fazer a “família Queirós”, escolhendo um naipe de jogadores e, durante dois anos, efectuando estágios que os roubou literalmente aos clubes de formação, fazendo com que passassem quase metade do ano ao serviço da selecção! Mas ao nível dos seniores, só ao fim de uma década é que existiriam tantos dias de estágio! Em 1994 foi fácil criar a desculpa da porcaria na federação, bem como do complot italo-americano favorável à presença italiana no Mundial dos Estados Unidos. Em 2009, com o Mundial a fugir-lhe por entre os dedos, a desculpa já vai sendo montada, afinal a culpa é de Scolari que não renovou a equipa! Coitado do Queiros que, a troco de uma mísera quantia mensal, tem de trabalhar com jogadores sem talento e trintões, tentando superar a Hungria na luta pelo segundo lugar do grupo!

O engraçado é que este argumento encontrou adeptos. Adeptos azulados, ainda com digestões de 5 anos por fazer, mas encontrou! Agora, ao contrário de tempos recentes, até aplaudem empates a zero! Em casa! Agora são nacionalistas e incriminam quem ousa criticar o estado das coisas. Sou um agitador, um anti-patriótico, ou patriota da festa, apenas porque não me conformo por ver uma selecção que me habituou a estar presente nas competições se encontrar moribunda. No passado a regra da “vitória em casa e empate fora”, política Scolariana, era reveladora da pobreza táctica e conservadorismo do seleccionador; actualmente com essa política teríamos mais sete pontos, liderando confortavelmente o grupo. Podem sempre afirmar que Scolari, no último apuramento, não venceu nenhum jogo entre selecções candidatas ao apuramento. Sim, mas também não perdeu, tendo inclusivé sido vítima de um tremendo erro no famoso jogo da Sérvia que valeu o “socolari” a Dragutinovic! Refazendo contas, com empates frente a Suécia e Dinamarca, e vitória frente a Albânia, teríamos ainda assim mais três pontos, suficientes para estarmos numa posição muito mais cómoda, dependendo apenas de nós próprios! Não há volta a dar, os apuramentos anteriores não foram brilhantes mas foram sempre controlados e sem necessidade de, a meio deles, rezar à Senhora do Caravaggio! Agora já nem ela nos vale pro primeiro lugar do grupo, sendo que o segundo começa a ser necessário ir a Braga e espreitar pelo famoso canudo somente para o ver…

Falta ainda referir implicâncias. Scolari e Baía ninguem esquece, mas ainda assim o brasileiro fez mais do que os mínimos para poder ser acusado do que quer que seja. Então onde estão agora os críticos das implicâncias? Nomes? Muitos, mas foco apenas os dos jogadores leoninos. Começo por Rui Patrício. Como se viu ontem, Patrício é, para Queiros, a sexta escolha para chegar à baliza. Não interessa que seja o único que tem a responsabilidade de defender a baliza de um clube de dimensão, do único que tem, em todos os jogos, grande pressão e responsabilidade. Isso é tudo irrelevante quando se tem um Eduardo de uma equipa de Braga e um Beto de uma equipa de Matosinhos. Se não desse para rir daria seguramente para chorar. E nem com a evidência do jogo frente ao PSG, em que Eduardo borra por completo a pintura, serve como aviso. Nem a dúzia com que Beto foi brindado no mês de Março na liga portuguesa. Não tiro valor aos dois mas enquanto não trocarem para clubes que tenham reais objectivos de conquista de troféus podem aspirar a número 1 de uma selecção como a portuguesa. Mal por mal preferia ver Hilário que, quando chamado a defender a baliza do Chelsea, raramente vacila! Avançando para a posição de defesa esquerdo. Chamar Gonçalo Brandão, de uma mediania brutal, é de quem não tem a mínima ideia do que anda a fazer. Miguel Veloso, cuja formação é de defesa esquerdo, é o homem certo. Aliás, jogasse ele na selecção a defesa esquerdo e seguramente que não faria as fitas que faz quando joga nessa posição no Sporting! Domina o espaço, controla a bola como nenhum outro na sua posição, sobe a preceito e é um dos melhores portugueses a efectuar cruzamentos. E, em boas condições psicológicas, é uma arma importante nas bolas paradas. Alguém me explica como nunca foi convocado? E a desculpa de não jogar nessa posição no Sporting não serve, nunca Gonçalo Brandão foi defesa esquerdo no Siena, nem Duda no Málaga… e muito menos foi Pepe trinco no Real Madrid! Essa então não lembra ao diabo! Com João Moutinho num excelente momento de forma, sempre em alta rotação, tê-lo em 90% dos jogos sentado no banco prova bem a incompetência desse tijolo moçambicano! Poucos sabem que Postiga possui já 11 golos na Selecção, sendo a arma secreta de Scolari, com os resultados que todos se recordam. Como é possível nunca ter sido convocado, apesar de jogar com grande regularidade no Sporting? Postiga nunca será um jogador de regularidade, mas sempre que foi chamado na selecção correspondeu. Quem não se recorda do Alemanha vs Portugal no último europeu? Mas não posso acabar sem referir Yannick Djaló, que começou a época qual diabo à solta! Porque não jogou um minuto frente à Dinamarca? Na Suécia? Frente á Albânia? Que fez Orlando Sá para merecer mais? Ou Edinho, Who Da Fuck is Edinho?!?!??

Queirós está a arder em lume brando, a sua incapacidade em lidar com homens e não miúdos é evidente, a facilidade com que cria mesquinhices mantem-se inalterável desde os famosos desentendimentos com Jorge Cadete e, apesar das evidências, teima em manter o rumo, mesmo que o precipício se aproxime a grande velocidade. Scolari, quando teve de dar o braço a torcer, fê-lo a bem da selecção. Queirós, com 4 centrais e 0 pontas de lança em campo, nunca cederá às pressões. Meus caros, o velório está marcado para meados de Novembro, mas deveria ser já porque o defunto já tresanda…


PS:
Queirós armou-se em engraçadinho antes do apuramento de Portugal para o Euro’08, afirmando que a selecção tinha de se assumir como candidata aos títulos. Scolari, tranquilamente, disse que antes dos títulos tinha de se pensar nos apuramentos. Sabia bem do que falava o brasileiro, afinal mesmo sem defesa esquerdo de qualidade, mesmo sem um ponta de lança efectivo e lutando contra o ego de CR7, conseguiu o apuramento e apenas caiu devido a um golo irregular que deu o triunfo aos alemães! Alguém ouviu Scolari armar-se em engraçadinho com a(s) paupérrima(s) prestação da selecção portuguesa? Não é professor mas mostra ao professor e restantes doutores que a melhor bofetada de luva branca que um treinador pode dar é esperar pelos resultados. “E o burro sou eu?” questionou um dia Scolari. Não brasuca, a cada jogo de Portugal há cada vez mais tugas que se convencem que tu eras tudo menos burro.


PS2:

Não sei se viram o encontro entre o Frederico Gil e o Nadal; várias vezes o português soltou uns impropérios por ver o azar bater-lhe à porta. Como eu o compreendi, sábado fui eu a soltá-los sempre que o barbas surgia na tv com cara de quem tinha acabado de aterrar no banco de suplentes vindo de algum planeta distante...