Reflexões de um Leão Desiludido

Os resultados negativos de um clube não são todos iguais, no que a emoções e estados de espírito diz respeito. Existem resultados que nos deixam abalados, outros que nos deixam frustados; existem resultados que nos deixam irritados e aqueles que nos deixam simplesmente desiludidos. Por exemplo, um resultado que me deixou abalado foi a derrota de Portugal contra os EUA no Mundial 2002, fiquei simplesmente atónito, para mim era algo impossível de acontecer! Um resultado que me deixou frustado foi a final da Taça Uefa de 2005, perdida pelo Sporting em Alvalade, com uma primeira parte de grande categoria, reforçada com vantagem no marcador. Quanto a resultados que me deixaram irritados, por exemplo, o modo displicente com que o Sporting encarou a partida com o Penafiel, em Alvalade, no campeonato 2004/05, dois dias após o FCP ter perdido em casa com o Nacional da Madeira por 0-4, quando uma vitória leonina teria sido suficiente para subir ao primeiro lugar da classificação! Perder, nestas circunstâncias, ainda para mais perante um adversário que viria a descer de divisão, revela tremenda falta de atitude, o que naturalmente irrita quem segue o clube com paixão. Sobra ainda um estado de espírito: desilusão! E foi precisamente com tremenda desilusão que assisti ao naufrágio da nau leonina frente ao Bayern em Munique.

Guardei a publicação deste post para os instantes prévios do jogo entre Sporting e Rio Ave para o campeonato nacional. Não espero outro resultado que não seja a vitória leonina, muito embora aguarde por muito sofrimento, exibição sofrida e vitória pela margem mínima, provavelmente com o selo de Liedson, que é dos poucos que justifica, todas as semanas, o que ganha! Aliás, comparando com os colegas, e tivesse o Sporting capacidade financeia para tal, deveria auferir o triplo! Adiante. Este post sai quatro dias após a tragédia bávara porque, se a azia consigo cura-la da noite para o dia, a desilusão custa mais! Não vou modificar uma linha acreditando na vitória frente ao Rio Ave, até porque, em caso de derrota dos leões, não há forma de aumentar os níveis de desilusão que sinto de momento. Bem, quero acreditar que os de Vila do Conde não vão marcar sete…

Regressando a Munique. Tentei ignorar a ridícula figura de Miguel Veloso no aeroporto da Portela, à partida para Munique, mas à posteriori é evidente que Paulo Bento começou a errar logo no aeroporto! Um jogador que vai para um jogo onde era importante corrigir a péssima imagem deixada na primeira mão, a pensar no seu ego e referindo-se a si próprio na terceira pessoa do singular, já não devia embarcar! Muito menos ser titular! Claro, reconheço, depois da tragédia é fácil apontar este erro. Na altura, confesso, borrifei-me (mais uma vez…) para a choraminguice do mongas. Miguel Veloso faz juz à política de vendas precipitada (na opinião de alguns…) dos jovens leões: já valeu tanto quanto Nani (25 milhões de euros), não foi transferido por 20 porque o Sporting recusou e actualmente dificilmente alguém pagará 10 por ele! Ou seja, um jogador se tiver bom potencial mas cerebro de galináceo (deve sair ao pai, tantos anos equipado de galinha só podia dar nisto…) tem de ser vendido logo aos 18 ou 19 anos! Mesmo que depois se revele, qual CR7, um craque. Ronaldo saiu por 15 milhoes, foi considerado mau negócio, mas para quem, como eu, se recorda da forma como o puto jogava só para si e para os seus malabarismos, não tem dúvidas que foi um bom negócio! Bom para o Sporting e bom para ele que, sob o comando de um treinador de classe mundial, domou os seus instintos mais básicos. E, no entanto, sempre que vem à selecção, mostra a face que se imaginaria de leão ao peito: individualista, com o rei na barriga, e sem noções de jogo colectivo. Exemplos como Nani, CR7 e Veloso, com enorme potencial mas sem maturidade, devem sair ao primeiro sinal de milhões a bater à porta. Outros, como Hugo Viana, Moutinho ou Luis Figo, pelo caracter, profissionalismo e respeito pela camisola, devem ser mantidos até ao limite. Moutinho é um caso paradigmático. Ele sabe que pode quadruplicar o que recebe em Alvalade, o que é aliciante para qualquer jogador de futebol. Quantos não deixam passar uma oportunidade e depois lamentam-se para o resto da vida? Mas, em campo, é um autêntico leão! Não há forma de um adepto leonino não o apreciar.

E Moutinho foi realmente o único sobrevivente do desastre de Munique. O que não deixa de ser uma lição a todos os sportinguistas que o criticaram por se assumir benfiquista enquanto miúdo. Como se o facto de pertencer a uma familía de lampiões e ser o mais novo não fosse, por si só, motivo óbvio para tal preferência! João Moutinho não fez um jogo brilhante, provavelmente não passou da mediania, mas comparado com os seus colegas, foi um Homem! Soube reprimir todos os receios e medos de um ambiente hostil, um resultado caseiro humilhante, um adversário muitissímo superior fisicamente e ultra motivado (alguém reparou no facto dos alemães terem jogado sempre à procura de mais um golo, mesmo nos descontos?...) e jogou de cabeça levantada, sem fugir da bola nem dos confrontos. É o que fica de Munique, 1 Homem, 12 covardes e 1 maricon de crista levantada!

Mas o que torma realmente este resultado de 7-1 numa tremenda desilusão foi assistir à passividade com que os jogadores encararam o naufrágio. Ficou a sensação que, perdendo, não importaria o score! Nada mais errado, para um adepto existe sempre uma questão de honra. É certo que, por vezes, nada há a fazer, quando um adversário ataca com grande qualidade e em velocidade. Desculpem os portistas mas tenho que voltar à tecla Arsenal. Foi evidente para quem se recorda do jogo no Emirate Stadium que os gunners fizeram um jogo brilhante, pleno de velocidade, criatividade e pujança física. O Porto perdeu por 4 não foram 8 por azar dos londrinos. Agora repare-se no que se passou em Munique. Foi o Bayern brilhante? Criativo? Rápido? Não, obviamente que não. Fisicamente foi o portento de sempre, e aí o Sporting estava destinado a perder. Mas os jogos não se ganham só pelo físico. Sem exagero, nem vitimização, em Alvalade o Sporting foi o responsável número 1 por quatro dos cinco golos sofridos. Primeiro marcado num tremendo erro de Derlei acompanhado pelos centrais, segundo em fora de jogo mas sem marcação, terceiro num penalty idiota e quinto numa fífia defensiva de meter medo! Em Munique, dos sete acumulados, os jogadores leoninos têm responsabilidade directa nos sete! Deficiente alívio de bola e falta de reflexos de Patricio no primeiro, total cagada de Polga nos segundo, terceiro e sexto golos (o homem estava possuído!!), quarto golo numa tremenda falha de marcação, quinto golo num penalty idiota e sétimo numa assistência brilhante de Izmailov! Assim, numa versão nua e crua da realidade, o Sporting ofereceu 11 dos 12 golos aos alemães! Alguém consegue contrariar esta tese?

Mas o que me incomoda mais nem foi a forma como os jogadores leoninos bloquearam mentalmente. A verdadeira diferença entre as duas equipas encontra-se nos primeiros 40 minutos da eliminatória. Depois uma desistiu e acobardou-se e a outra recolheu mais do que merecia. Sinceramente, este Bayern está destinado a cair nos QF aos pés de qualquer adversário ainda em prova. É que a grande diferença entre FCP e Sporting encontra-se na solidez mental dos dragões, que sabem reagir às adversidades e que, em última instância, protegem a instituição de ser humilhada. Não posso admtir o facto de 5 dos 12 golos sofridos pelo Sporting (2 em Alvalade e 3 em Munique) terem acontecido nos minutos finais de cada encontro. Com 3-0 em Alvalade e 4-1 em Munique o Bayern estava em descompressão e restava aos jogadores leoninos controlar a posse de bola e evitar o naufrágio completo. Se a eliminatória estava decidida havia que salvar a honra do clube que lhes paga principescamente! E daí advém a minha desilusão e o meu silêncio nos últimos dias, foi desolador perceber que o único jogador leonino que honra a camisola e que respeita o sentimento dos adeptos é um lampião e que está mortinho para sair do clube! O meu sportinguismo não morrerá nunca, não há goleadas que abalem a minha paixão pelo clube, não há quedas de divisão que me assustem nem ausências de títulos que me atormentem. Mas há desânimo. E desilusão. Acredito que o jogo frente ao Rio Ave ajudará na recuperação anímica dos adeptos mas já estou como S.Tomé, ver para crer…